Dois dias em Veneza

Em algum canal de Santa Croce
  E então a oportunidade de visitar Veneza me apareceu com mais uma dessas promoções com preços irresistíveis! E desta vez não poderia perdê-la de jeito nenhum, já que ida e volta deram o total de €5 de ônibus! Foram um pouco mais de 5h45min de viagem mas posso afirmar que o percurso foi muito agradável e quentinho (um viva ao sistema de aquecimento!) e fiquei por lá do dia 11 ao dia 12 de dezembro.
  Para que a viagem ficasse ainda melhor, consegui um couchsurfing (a tradução seria próxima à "surfe de sofá"; mas em outras palavras, hospedagem gratuita) com o pessoal do edital de Veneza e já conheci metade deles no apartamento (porque só tem 10 pessoas do Ciência sem Fronteiras vivendo por lá) e foram todos muito solícitos e simpáticos! Eles moram em Mestre, uma cidade ao lado de Veneza e essa é muitas vezes considerada como parte ou um bairro da cidade. Por outro lado, passei pelo maior frio que eu senti até agora por lá! Ainda que eu estivesse bem vestido para o frio, isto não foi o suficiente. ç.ç

Mapa do roteiro de bairros visitados

 Eu e minha amiga This visitamos 7 bairros e fiz um pequeno roteiro a partir das dicas do guia de bairros de Veneza que encontrei no site da Airbnb. Conhecemos Santa Croce; San Polo; Dorsoduro/Accademia; San Marco, Castello, Cannaregio e a ilha de Murano.
 Em Veneza é necessário caminhar muito, então tem de ir preparado para fazer muita caminhada e se perder nas vielas da cidade – o que não é muito difícil – mas garanto que é uma das graças da cidade! Para visitar as ilhas de Giudecca, Murano e Burano é necessário utilizar o Vaporetto que é uma embarcação que serve de um meio de transporte público. Já aviso que bilhete não é nada barato (custando €7,50) e caso opte pelo bilhete que dá acesso também aos outros transportes (ônibus que vão de Mestre a Veneza ou o bonde elétrico que liga a ilha de Tronchetto ao Piazzale Roma) pelo perído de 24 horas este custa €20. Bem, Veneza não é nada barata e até o McDonald's custa um pouco acima do normal. ;p

Santa Croce


SANTA CROCE // ARTESANATO – GRANDE CANAL

 
Este foi o primeiro bairro em que começamos a percorrer porque é ao lado do Piazzale Roma – onde é o terminal de ônibus e o limite do transporte terrestre – também ao lado da ilha de Tronchetto (onde geralmente é a parada de ônibus de turismo e estacionamento) e dá para se acessar o bairro de Cannaregio pela Ponte della Costituzione (aquela bem moderna, polêmica* e um tanto escorregadia porque tem partes de vidro). É um canto com muito muitos canais, cafés agradáveis e quiosques vendendo artesanatos e máscaras. Os lugares que me interessam ali foram o palácio Ca' Pesaro, o Fontego dei Turchi (sede do Museu Civico de história natural) e a Igreja de San Stae.

Santa Croce


SAN POLO // ARTESANATO – CAFÉS – QUIOSQUES

 
É aqui onde está a igreja mais antiga da cidade; a igreja San Giacomo di Rialto, também a famosíssima Ponte di Rialto mas infelizmente estava em reformas e não podemos vê-la muito bem. Em compensação, passamos um tempo pelo praça Campo San Polo onde estava tendo uma feira e também pista de patinação; com muitas crianças se divertindo por lá.

This e frio durante o fim de tarde

Feira natalina no Campo San Polo

  E também foi em San Polo que encontramos algumas lojas de máscaras surpreendentes e macabras! Uma delas foi a La Bottega dei Mascareri (S. Polo 2720) e é muito famosa porque alguma de suas máscaras já apareceram em muitos filmes – como "Eyes Wide Shut" de Stanley Kubrick – livros e também tem várias fotos de muitas celebridades com algum produto ou com os donos.
 A sensação de admirar as máscaras é um tanto confusa e irônia. Eu me encontrei admirado com os detalhes, acabamentos e beleza; mas também me encontrei com uma certa sensação de receio das mesmas porque passam uma sensação um tanto assustadora. Seria a mescla entre o belo* * e o grotesco* *?!

La Bottega dei Mascareri

La Bottega dei Mascareri

Medico della Peste

 Encontrei algo que – há um bom tempo – já me deixava muito curioso sobre a história enquanto caminha por San Polo: o médico da peste, na forma de um grande manequim e outras várias marionetes! Este foi um médico que tratava da peste negra em cidades com muita incidência da epidemia. Muitas vezes eram conhecidos por direcionar os pacientes a um falso tratamento ou cura e normalmente não eram médicos experientes ou treinados; e muitas vezes também eram jovens profissionais buscando estabelecimento na carreira. E o motivo destas máscaras e roupas?! Estas serviam de proteção contra o ar fétido que era considerado como o causador da doença; muito usada entre o século 17 e 18 com apenas dois orifícios perto das narinas. O visual sombrio dos trajes e da história me chamam muito a atenção!


DORSODURO/ACCADEMIA // AGITADO – CAIS DE PEDRA – GRANDE CANAL

 Um bairro com muita influência artística e com uma ótimo vista pra o grande canal. Por ali existe a Collezione Peggy Guggenheim – um museu que se encontra também no grande canal e teve sua inauguração em 1951 no Palazzo Venier dei Leoni. Peggy* foi uma das colecionadoras com maior destaque no século XX; foi ex-esposa de Max Ernst* (um importante artista do movimento surrealista) e o acervo inclui obras de Picasso, Salvador Dalí, Magritte e até mesmo de Pollock!
 Também conheci a Basilica di Santa Maria della Salute; construída por volta de 1630 aos arredores da Punta della Dogana (esta é uma área triangular que divide o Grande Canal e o Canal de Giudecca) e possui o estilo barroco*. Para ir ao famoso bairro de San Marco, basta passar pela bela Ponte della Accademia!

Ponte dell'Accademia

Basilica di Santa Maria della Salute


SAN MARCO // CENTRAL – GRANDE CANAL – FESTIVO

 Acredito que seja o bairro mais movimentado de Veneza já que está no coração da cidade. Aqui se tem a maior praça veneziana – tendo muita beleza e unidade esteticamente arquitetônica – e é a única que esta denominação porque as outras são chamadas de "campo".

Piazza San Marco

 A Basilica di San Marco* é a principal igreja de Veneza; inicialmente foi construída em 832 e os restos mortais do padroeiro de Veneza – São Marcos Evangelista – foram trazidos da cidade de Alexandria à basílica  por mercadores venezianos. Sua construção da sua versão atual teve início em 1063 com conclusão em 1617, sendo também um marco da presença do estilo bizantino* por ali. A maior expressão desta arte é a utilização dos mosaicos; tendo também a criação de ícones – pinturas sacras – geralmente realizados em madeira; outro grande exemplo inovativo era criação de várias cúpulas.
 Ainda na praça se encontra a Torre dell'Orologio ("Torre do Relógio"); foi construída entre 1496 e 1499 e é um importante edifício da arquitetura renascentista* * – esta é ligada a uma nova visão empírica, científica em relação ao homem e a natureza; também focada ao revalorização da racionalidade (humanismo) e da arte da antiguidade clássica (classicismo). A parte central do relógio é feita de ouro e esmalte azul e mostra apenas o horário; mas também o dia, as fases da lua e os signos!
 Enfim, o Palazzo Ducale é o marco do estilo gótico* veneziano; com construção entre 1309 e 1424 e era a antiga sede do Doge de Veneza (algo como o dirigente máximo da República de Veneza). O gótico italiano* é um pouco diferente daqueles de origens francesas, inglesas ou alemãs porque ainda não se desprende de influências de algumas tradições da arte romana, bizantina ou clássica; por exemplo, o estilo italiano resistiu contra a eliminação de paredes densas pelas quais eram trocadas por vitrais e rosáceas.

Torre dell'Orologio e a Basilica di San Marco



CASTELLO // PARQUES – JARDINS – SERENIDADE

 Não sobrou muito tempo para visitá-lo durante o dia e conhecer o ambiente calmo com os belos jardins da Bienal de Veneza; que é uma referência no cenário das artes contemporâneas. Por outro lado, conhecemos à noite o Laboratorioccupato Morion: é uma espécia de centro social onde é um edifício geralmente é ocupado para que sirva como um local de atividades alternativas ligadas à cultura, artes (e também ofícinas), política, música e afins. Foi muito legal e diferente porque estava tocando jazz, soul e outras músicas não muito "populares" (tocou até Etta James! <3) ; também tinha um espaço com pebolim – seria totó ou futebol de mesa?! – uma estante com livros e um homem lendo atentamente enquanto a música rolava! Ele nem sequer esboçava nenhum sinal de desaprovação sobre ter gente gritando ou jogando ao lado dele.
 O importante ali era a diversão e o lugar me pareceu de uma energia muito positiva; era uma certa união juvenil compartilhando da mesma vontade de mudanças e do preenchimento cultural neles mesmos.

Venezianos e estrangeiros; entre o pebolim e os livros no Laboratorioccupato Morion.

As politizadas paredes do Laboratorioccupato


MURANO // ARTESANATO EM VIDRO – TRANQUILIDADE – LONGE DO CENTRO

O segundo dia ficou reservado para visitar a ilha de Murano. Já que é preciso pegar um vaporetto porque se encontra mais distante das ilhas centrais, decidimos partir para lá mais cedo para que desse tempo de voltarmos sem perder o nosso ônibus de volta a Turim. Murano é uma ilha muito tranquila e com a tradição da produção de artesanato em vidro a sopro. É uma delícia caminhar por lá sem todo aquele movimento de turistas para admirar as ruelas e casas do local; também tem a Torre do Relógio e o Farol de Murano. Além disto, pudemos assistir gratuitamente às demonstrações de artesanato em uma fábrica chamada Ellegi Glass. Foi muito interessante ver a destreza e habilidade do artesão na criação! Por exemplo, ele nos demonstrou o desenvolvimento de um cavalo e tinha um pouco mais de 1 minuto para terminá-lo; se não, teria de refazê-lo totalmente (ao contrário de vasos porque se pode reaquecer somente uma parte e então corrigi-la).

Nas proximidades do Farol de Murano
  

 

  

 
Ainda tenho muito para conhecer desta sereníssima. Não deu tempo de visitar a ilha de Burano, Lido (conhecida pelas praias) e – quem sabe – um dia visito a assombrada ilha de Poveglia?!

Até mais! :)

[6 on 6] Edifícios Turinenses

Via Cesana
 Tudo bem, o sexto dia do mês já passou tem um certo tempo mas esta publicação veio em tempos um tanto caóticos. Primeiro, porque tive de estudar para três provas e apesar de todas serem extremamente teóricas – uma delas era ainda mais e não sobrou muito tempo para pensar em qualquer coisa que não fosse estudar – e de qualquer modo ainda não sei se fui muito bem devido a algumas confusões mentais, tsssssc.
 Bem, falar sobre os edifícios de Turim para o 6 on 6 de dezembro é realmente difícil porque são tantas influências e derivações do mesmo tema que se torna uma confusão para escolher quais fotos colocar! Desta vez decidi me focar nos edifícios ou apartamentos mais "cotidianos" – mas não quer dizer que não sejam grandiosos – sendo que estes não podem ser descritos como simples porque possuem uma grande complexidade e ornamentação.
 Em Turim existe exemplos que partem do barroco*, neoclassicismo*, ecletismo*, art nouveau (liberty)*, racionalista* ao estilo contemporâneo*.

Esquina entre Corso Stati Uniti e Corso Duca degli Abruzzi

A cidade tem forte presença do Art Nouveau* (ou Liberty) e é considerada como "a capital italiana do Liberty"* já tinha aparecido aqui no blog antes na publicação sobre "Decoração Art Nouveau". O estilo está perto do conceito de Artes Aplicadas – o que tem a ver com a arquitetura, principalmente com as artes decorativas, design e também incluindo artes gráficas/impressas. Esta "Nova Arte" vai ao contrário das tendências da época (em um momento do qual tendia aos materiais cada vez mais industrias e esteticamente voltada ao essencial, minimalista e angulosamente reto) e parte para acabamentos com forte inspiração na natureza e suas formas; com muitas linhas sinuosas, ornamentação florais e de animais, arabescos e curvas. O estilo retoma uma certa união conceitual entre arte e indústria para que possa entrar no ritmo da nova e veloz vida cotidiana.

Esquina entre Via Magenta e Corso Duca degli Abruzzi

Casa della Vittoria ou Casa dei Draghi (Corso Francia, 23)

Este edifício acima é a Casa della Vittoria* (chamada também de "Casa dei Draghi"*; em português "Casa dos Dragões") e é um marco para o estilo neogótico (e também eclético) da cidade. A residência se localiza no bairro Cit Turin – onde eu moro – foi construída em 1918 e concluída em 1920 pelo engenheiro Gottardo Gussoni como uma forma de celebração da retomada econômica no setor de construção civil depois do período da primeira guerra mundial.

 Em suas referências arquitetônicas, este é neogótico porque faz referência ao Revivalismo Gótico* (movimento artístico por volta dos séculos XVII e XVII) e recupera a verticalidade das formas – o prédio é daqueles que precisamos nos curvar para apreciar cada detalhe! – a irregularidade das linhas de construção, com arcos redondos e  também grandes portais; gerando uma grande relação entre o construtivo e o religioso. Por outro lado, é também eclético* pois combina diferentes referências históricas sem que tenha a intenção de produzir um novo movimento ou estilo; em outras palavras, é a seleção das melhores qualidades com a intenção de realizar algo belo. Em sua fachada, tem esta frase que é relacionada à guerra:

"NEI MOMENTI PIU’ TORBIDI DEL DOPOGUERRA IL CAVALIERE DEL LAVORO GIOVAMBATTISTA CARRERA DI MAGNANO BIELLA COSTRUIVA QUESTO MONUMENTALE PALAZZO A RICORDO DELLA GRANDE VITTORIA ITALIANA
MCMXX"


"NOS MOMENTOS MAIS IMPUROS DO PÓS-GUERRA, O TRABALHADOR CAVALEIRO GIOVAMBATTISTA CARRERA DI MAGNANO BIELLA CONSTRUÍA ESTE MONUMENTAL EDIFÍCIO EM MEMÓRIA DA GRANDE VITTORIA ITALIANA
1920"
(numerais romanos)

Corso Giacomo Matteotti

Corso Giacomo Matteotti

Ainda estão por vir muito mais destes edifícios!

Arrivederci!

Pitchfork Music Festival Paris 2015

Grande Halle de la Villette

Este festival tão aguardado por mim chegou no dia 30 de outubro. Meses antes de acontecer, eu já tinha comprado o ingresso ainda no Brasil uns dias depois da anunciação de Bjork como atração principal deste dia. Na dúvida entre comprar ou não o ingresso naquele momento; decidi garanti-lo. Mas o que não poderia nunca esperar acontecer simplesmente aconteceu: ela cancelou tudo faltando apenas 4 shows para que ela terminasse a Vulnicura Tour e o Pitchfork era um deles!

Apesar da decepção e também revolta – já que este show me significaria muito porque musicalmente ela tem um enorme espaço no meu ano – optei por não pedir reembolso e esperar por alguma esperança dela reagendar a turnê ou até mesmo mudar de ideia (ok, isto nunca aconteceria). Felizmente, colocaram alguém que é considerado a alma gêmea musical* dela e também é alguém que eu gosto muito: Thom Yorke! Não poderia ser melhor! Com certeza foi uma substituição à altura!

No final de outubro, Paris me aguardava e cheguei até esta através do famoso ônibus de viagens low-cost – “baixo custo” – chamado Megabus. Foram mais ou menos 11h20min de viagem; saí de Turim no dia 29 de outubro, às 18h40min e cheguei no dia seguinte às 6h20min na estação de Bercy (contei com a ajuda da Rebeca, que também é uma intercambista daqui e estava no mesmo ônibus, para que eu pudesse pegar o metrô. Um grande obrigado!). Depois disto, desci na estação Pyrénées para me encontrar com o meu grande amigo Guto e enfim conhecer a cidade antes de irmos ao show; mas ficarão para uma próxima postagem sobre os pontos turísticos!



 
Fiquei hospedado por apenas uma noite no hostel St. Christopher’s Inn Canal e fica literalmente ao lado do canal de St. Martin. Uma visão mais do que bela! A localização – apesar de não ser no centro – é próxima aos arredores de Montmartre; das estações de metrô Crimée e Gare du Nord e é uma ótima escolha para conhecer um lado menos apertadamente turístico de Paris. Não tive do que reclamar sobre a estadia e sobre os serviços oferecidos porque eram de qualidade (Wi-Fi e café da manhã já inclusos) e todos os funcionários com os quais tive contato foram muito educados e prestativos; inclusive a recepcionista era brasileira e vive em Paris há uns 7 anos!

 A localização do festival era pertíssima de onde eu estava e este foi um dos motivos pelos quais eu escolhi ficar no St. Christopher’s. O Pitchfork Festival aconteceu no Grande Halle de la Villette*, localizado no Parc de la Villette*. Ambos são um grande local de atrações culturais, esportivas e sociais em um canto não muito visado pelos turistas. Caminhei durante a noite pelo canal e cheguei ao Grande Halle em uns 15 minutos.

A programação do dia 30 contava com artistas como Dornik; Rome Fortune; Health, Rhye; Kurt Vile & The Violators; Battles; Thom Yorke e por fim Four Tet. Quando cheguei por lá; por volta das 19h20min, a dupla canadense Rhye (composta por Mike Milosh e Robin Hannibal) estava tocando e são uma mistura de soul, R&B alternativo e groovy eletrônico de um modo melodicamente romântico! A dupla possui uma vibe um tanto tranquila; mas também passa por uma certa influência de “baladinhas” dos anos 80.



A apresentação de Thom Yorke foi apenas às 21h50min. Enquanto isto, eu, Guto e também os outros três amigos fomos conhecer melhor os entornos do festival. Para comprar comida e bebidas, era preciso comprar aquelas moedinhas típicas de eventos deste tipo. Apesar disto parecer levar um grande tempo de espera, tudo foi muito rápido e recebemos um bom serviço! Além disto, havia ambientes com poltronas para se sentar e também um quiosque com roupas, vinis, CDs e afins. Infelizmente eu não assisti muito dos outros dois shows seguintes – dos quais foram Kurt Vile & The Violators (às 20h00) e Battles (às 20h55) – porque o Grande Halle estava composto por 2 palcos de que os artistas tocavam se intercambiavam (para poder dar tempo de cada banda se organizar) e decidimos esperar naquele onde o Thom Yorke tocaria. Mesmo assim já tinha gente sentada ao chão; o que foi um tanto irritante, para que pudessem pegar aquela grade! O que me chamou a atenção no Battles foi o uso de ritmos tribais mesclados com uma voz um tanto “alienígena” e com a composição musical complexa – classificada muitas vezes como “Math Rock* – por usar dissonâncias, métricas incomuns e também ter influência de rock progressivo.



 
 Em pouco tempo o show estaria para começar e com isto estavam finalizando a montagem dos itens do palco. As configurações de tela e o número de contagem de cada telona aos poucos se tornavam projeções da marca do projeto Tomorrow’s Modern Boxes para aumentar ainda mais a ansiedade. Não fiquei longe do palco, mas a minha vontade era de ficar ainda mais perto! O ambiente possuía uma mescla entre empolgação, curiosidade e seriedade porque o público em sua maioria não era assim mais tão teen. Mas quem liga?! O ambiente estava mais do que agradável e totalmente propício para contemplações artísticas!

Por Vincent Arbelet


Eis que pontualmente o tão esperado Thom Yorke apareceu! Entre a euforia e os aplausos do público, ele subia ao palco serenamente. As projeções baseadas em linhas coloridas – feitas pelo artista Tarrik Barri – começavam lentamente a se adaptar às batidas; à voz suave e ao escuro para que tudo ficasse harmonicamente e introspectivamente etéreo enquanto o show começava com "The Clock", do álbum "The Eraser (2006)". O vocal trazia um grande envolvimento, muitas vezes nos trazendo fascínio; em outras, melancolia (mas nada distante daquilo que ele sempre propôs em seus projetos) e seu final ecoavam sons de pássaros unidos às vozes computadorizadas que me lembravam um tanto daquelas de “Fitter Happier”.


A música seguinte foi “A Brain in a Bottle” e é a primeira faixa do TMD. Os “pássaros” ainda continuavam a ambientar a atmosfera assim que os primeiros acordes de guitarra aos poucos apareciam; o que deixava o single ainda mais atraente por ter este detalhe a mais em relação àquele do estúdio. É uma das poucas e mais dançantes se baseando – de certo modo – em um desafio a Deus para que tenha uma conversa sem recuos; o que a faz ser docemente intrigante e envolvente! “Come out fighting back (in the dark)” (“Saia contra-atacando (no escuro)”) – Yorke relata sobre o quão difícil é lutar no escuro e contra algo desconhecido mas que ele consegue revidar.

Em “Guess Again” é curioso de se analisar como alterna entre a breve e tímida esperança do início, a dramaticidade das batidas e o temor encontrado em sua letra porque esta fala sobre todas os pesadelos e criaturas que – metaforicamente ou não – podem lhe encarar e também chutar a sua porta! Toda a inseguranças estão ali fora, no seu jardim, estão ao redor e “adivinha quem é?” que está tentando entrar na sua mente? Elas mesmas!


Das variações de frequência e relações líricas sobre a falta de piedade em um amor que está escoando das suas mãos aparece “Truth Ray” – uma calma canção apesar do conteúdo ser dolorosamente sobre a perda de tudo e remorsos internos. Também do álbum TMD foram tocadas “Pink Section” e “Nose Grows Some”.


 
As expressões dos expectadores ainda eram mansamente curiosas e admiradas sobre o que ainda poderia vir. Quando o show parecia ter acabado, todos vibraram com grande fervor – entre gritos, aplausos e encantamento – para agradecer a Thom Yorke pelo ótimo concerto e isto durou por mais de 5 minutos; também, se escutavam exclamações e trocadilhos como “Björk!” ou “Thom Björk!” – afinal poderia (ainda que mínima) existir a esperança dela aparecer. Ele finalmente volta com “Default” (do projeto Atoms for Peace) para fechar o ciclo daquela noite de uma maneira estranhamente dançante!

Por Vincent Arbelet

 
Acredito que tanto o show quanto Thom Yorke como expressão artística possam ser descritos como “esquisitos”, “reflexivos” e “introspectivos”. Talvez todos que lá compareceram estivessem sutilmente procurando algo como a união reflexiva na arte. Foi um ambiente totalmente propício para a troca de energias – onde Yorke nos mostrava as suas confissões, medos e esperanças para que pudéssemos também pensar nas nossas próprias – deixando na memória as lembranças de uma noite de envolvimentos. Descrevê-lo como “etéreo” também se encaixaria perfeitamente porque em muitos momentos eu tive a sensação de estar em um plano mais distante e inconstante... Foi de certo algo como voar!

Eu só tenho de agradecer pela experiência e também pela oportunidade de ter um grande amigo – o Guto – compartilhando da mesma energia. Saímos de Curitiba para explorarmos o desconhecido por nós em diferentes cantos da Europa neste intercâmbio e este vai além do academicismo para atingir outros meios. Posso afirmar que tudo foi maravilhoso!

Por Lelelerele Handmade




Para finalizar, espero que esta publicação simbolize possa trazer (mesmo que apenas verbalmente) coisas boas a cidade luz em relação ao atentado ocorrido recentemente. O Festival aconteceu há algumas semanas antes desta tragédia e poderíamos ter sofrido algo também. Que a cidade possa se reconstruir e o seu povo possa reviver!

(O setlist do show pode ser visto aqui)

Abraços!

[6 on 6] Outono

Piazza Adriano

 E então o meu primeiro 6 on 6 de um modo bem colorido! Este projeto fotográfico se baseia em postar 6 fotos em todo dia 6 de cada mês. Tudo bem; estou um pouco atrasado, mas a primeira postagem do projeto aqui aparece como uma comemoração do meu segundo mês na Itália!
 O tema que escolhi para o mês de outubro/novembro é o Outono já que este começou no dia 23 de setembro e agora é possível ver milhares de folhas ao chão!
 Algo ótimo de se ver é caminhar pela cidade, mesmo nos dias mais atarefados e cheios de rotina, e admirar o belo degradê feito pelas folhas das árvores. Algumas do amarelo ao vermelho e outras vão do laranja ao verde; gerando aquela belíssima combinação de cores análogas. Estes registros são voltados aos arredores do meu bairro que se chama Cit Turin ("Pequeno Turim" em dialeto piemontês) e também do Politécnico de Turim que também é muito próximo ao meu endereço.

Piazza Adriano

Torèt

 Tanto na Piazza Adriano quanto em outros cantos da cidade existe as fontes de água chamadas de Torèt (significa "Pequeno Touro" no dialeto piemontês) e também carinhosamente de tourinho. São muito difusas entre os turineses como um símbolo da cidade e grande parte possui afeto por esses. É um ótimo meio para se refrescar gratuitamente em dias quentes, nos momentos de esporte ou simplesmente naqueles cheios de sede!





 
 O sol contagia praticamente todo o apartamento nesses dias calorosos, exceto pelo o meu quarto porque só pega sol durante a manhã. Aos poucos o tempo está esfriando e os estes dias estão para acabar. Precisamos aproveitá-los! Outro bonito detalhe é ver os alpes quando o céu está totalmente limpo e em algumas partes já estão com neve!

Politécnico de Turim no Corso Duca degli Abruzzi


As flores estão cada dia mais avermelhadas no campus do Politécnico de Turim no Corso Duca degli Abruzzi. Infelizmente as minhas aulas não são ali; exceto aos poucos sábados nos quais tenho aula de italiano. Mas vale a pena acordar cedo para me maravilhar com os detalhes!

Corso Duca degli Abruzzi

Ci vediamo!

Um mês em Turim

Mole Antonelliana

  E no dia 8 de setembro eu deixei Curitiba para viver em Turim. Há pouco mais de uma semana completei um mês aqui e com muitas aventuras logo de início! Muita ênfase neste último substantivo porque tanto na partida quanto nos primeiros momentos em que cheguei aqui coisas mais do que inesperadas aconteceram! E com tantas burocracias para resolver e descobrir onde fica cada coisa; o mês passou voando.

 O primeiro voo da minha vida estava marcado às 14h20 com destino ao aeroporto de Garulhos e era um dia muito chuvoso e nublado. Apesar de ter achado que tudo havia ocorrido tranquilamente, minha amiga Thaís (com quem eu também divido apartamento e fazemos as mesmas matérias no Politécnico de Turim) achou que aconteceram enormes turbulências! Depois disto, já sabíamos que teríamos de esperar no aeroporto porque o próximo voo rumo a Paris seria apenas às 19h10. Mas as aventuras só estavam por começar – e as mais fortes ainda não foram descritas aqui – porque tivemos de esperar por mais de 6 horas após o horário previsto devido ao péssimo tempo e atraso do avião já que este estava no Rio de Janeiro! Para mim, a espera passou e um piscar de olhos e o melhor é que ganhamos um voucher para comida, hehe.

 Após aproximadamente 11 horas de viagem, chegamos ao aeroporto Charles de Gaulle, em Paris! Mas como tudo já estava mais do que atrasado, tivemos de esperar mais um tanto para que pudéssemos – enfim – continuarmos o nosso trajeto (não posso me esquecer de dizer que o voucher nos salvou novamente!).

O céu do aeroporto Charles de Gaulle incrivelmente às 20h11; era quase o final do verão e escurecia muito tarde.

 Chegamos em Turim por volta das 22h00 e com este percurso tudo fluiu muito bem. Inclusive, eu me sentei ao lado de uma senhora brasileira e nascida em São Paulo! Ela estava falando em italiano com os sobrinhos porque vive aqui há muito tempo mas ficou muito empolgada ao ver o meu passaporte. Conversamos um pouco e ela foi muito simpática; tanto é que ela me ofereceu o sanduíche do qual ela ganhou no voo para que eu comesse ao chegar finalmente em casa. Uhul!

 Pegamos o táxi e enfim chegamos ao nosso apartamento (carinhosamente nomeado pelos moradores de Cafofo Maroto, um tempo depois). Então, isto quer dizer que tudo estaria em paz?! Definitivamente não!!! Nem sequer completamos meia hora em nosso novo lar e algo nunca imaginado aconteceu: Thaís (ou Thís para os 'migos) deslocou o braço! Isto mesmo, deslocado! Este mais do que horrível acidente aconteceu quando ela tropeçou na própria mala enquanto estava superempolgada mostrando o apartamento à sua família via skype.
 O desespero nos tomou! Eu e a Arielly – outra integrante do aparamento e que chegou semanas antes de nós – tínhamos o dever de ajudá-la a procurar um hospital mais próximo e acionar o seguro (são nestes momentos em que vemos o quão importante é fazê-lo e realmente utilizar a parte da bolsa destinada a isto). E que aflição! Nem mesmo conhecíamos a cidade e muito menos aonde poderíamos ir! Assim, encontramos o Ospedale Maria Vittoria e demos entrada no prontuário. Ainda que a espera tenha sido longa, tudo felizmente deu certo! Nossa querida Thís teve de ficar com o gesso por 15 dias para que pudesse começar as sessões de fisioterapia.

Eu, Thís e a tábua de cortar em nosso primeiro ponto turístico!
Corso Vittorio Emanuele, meu novo endereço. <3

 Sobre as primeiras impressões: a arquitetura, disposição e paisagismo da cidade são coisas que chamam a atenção. Os prédios antigos e muitos com fachadas ornamentadas trazem detalhes encantadores!  Os primeiros pontos turísticos que visitamos – sem contar o hospital! – foram a Piazza Carlo (onde tem as "igrejas gêmeas"), Castello del Valentino e o Borgo Mediavale (estes ficam no Parco del Valentino). E da comida tipicamente italiana não poderia falta a pizza porque é ótima! É uma pizza para cada pessoa – mas geralmente dividimos porque é um tamanho relativamente grande – apenas um sabor; embora em alguns lugares exista uma doce de sabor Nutella e em Turim custa cerca de €5. Mas de qualquer modo vale muito a pena!

 Bem, muito mais ainda está para ser escrito sobre o que aconteceu na minha vida neste um mês e nos próximos que ainda virão. Aos poucos me organizo melhor porque as aulas no Politécnico já começaram há algumas semanas e as de italiano já estão acontecendo desde o dia 17 de setembro. Esta cinzenta Turim ainda tem muito para contar!

Até logo!

Bem-vindos, novamente!


 Então, mudei! E aqui estou depois de um enorme – ou mais de dois anos – período de afastamento. Apesar de ter pensado que não teria mais inspirações para compartilhar, eu me encontro aqui novamente! Várias foram as vezes em que pensei não voltar mais; decretar o fim do blog e ainda outras muitas desejei reformar tudo para que pudesse continuar. Mas os outros deveres e obrigações me chamavam e o desânimo aumentava cada vez mais. Mas é ótimo que tudo muda, não?!

 E nada mais incentivador do que esta minha fase atual: viver um intercâmbio! Estou morando em Turim, na Itália, pelo programa Ciência sem Fronteiras! Consequentemente, todas as emoções do ano antes de me mudar e ainda mais as quais virão me servem de incentivo. E o objetivo do blog (aquele proposto lá em 2011) ainda permanece: trazer inspirações, arte, música, cultura e toda a forma de bons sentimentos. Este é aquele velho espaço para as boas lembranças e é tão bom voltar!



Sobre as mudanças, o blog agora se chama Cielo Grigio ("céu cinza" em italiano) deixando de ser o C'est Captivant Blog e o endereço sharingtheculture.blogspot.com. Agora o endereço tem o mesmo nome e está tudo unificado (reconheço que teria sido melhor assim sempre). A intenção do novo nome é unir de algum modo Curitiba e Turim já que ambas são relativamente conhecidas por este céu acizentado; o que não quer dizer que sejam ruins! Esses climas são mais serenos e calmamente mais contemplativos. E por que não apreciar cada momento ou inspiração? E o Cielo Grigio é um belo diário de bordo virtual!

Também, a reforma levou um certo tempo mas com um bom motivo: o layout agora é responsivo! Ou seja; este se adapta aos diversos tamanhos de telas de cada dispositivo, seja um computador, tablet ou celular. Sobre a paleta de cores e estrutura, tenho um grande apreço pela estética voltada ao minimalismo e contraste entre estes deixa tudo mais enfático.

Enfim, gostaria novamente de dizer que estou feliz pela minha volta e este relicário virtual está finalmente reformado. Que venham muitas boas energias e inspirações.

Grande abraço!