Retratos & aquarelas


 Olha quem apareceu! Uma tag, até então, que ficou por muito tempo com a promessa de voltar e nunca reaparecia. Mas tudo tem uma motivo: a criatividade é algo estranho e não tem data para aparecer. Desde o começo do blog e a primeira postagem do sketchbook, muitos desenhos apareceram; muita poesia também foi escrita mas muitas levaram muito tempo para surgirem na cabeça.
 As ilustrações, desta vez, marcam o período em que a inspiração (que demorou muito) me tomou conta durante o intercâmbio. Desde que vim para cá – já são quase 7 meses! – eu não tinha desenhado até fevereiro chegar; mas quando este mês e março chegaram, coincidentemente fiz algumas ilustrações de retratos.



 "Diedrich" é o nome da ilustração que marca este retorno criativo. A ilustração foi inspirada na Stephani – namorada do meu irmão – que por sinal ainda não a conheço e esta me inspirou por me passar boas energias artísticas. Pelos relatos do meu irmão, ele se diz preenchido tanto amorosamente quanto artisticamente com a sua presença e isto também me faz sentir inspirado. A versão original (vista acima) é apenas a aquarela que desenhei e abaixo é a versão finalizada com colagem digital (texturas encontradas no deviantart). A intenção foi passar um pouco do universo em que eu imagino que ela possa fazer parte artisticamente e poeticamente; trazendo serenidade, sinuosidade e até mesmo delicadezas. Talvez seja lado oposto do clima noir que se encontra a musicalidade do triphop ou do Portishead que tanto eu quanto ela gostamos!

"Diedrich"; colagem feita por mim em fevereiro.

 Seguindo a mesma técnica de mesclar aquarela e colagens, eu criei a ilustração que chamo de "GNCLVS". Esta é – mais uma vez – a representação de um amigo (o Matheus) que ainda só o conheço a distância – e foi feita durante uma noite de março. Já tinha imprimido há um certo tempo as texturas que utilizei mas ainda não sabia o que fazer com estas; então foi um ótimo momento de criar alguma composição!


 A mais recente é a "Birch"; colagem feita em homenagem à cantora Diane Birch e também ao lançamento independente do seu novo álbum NOUS. Birch é uma cantora da qual eu gosto muito desde aproximadamente 2010/2011; quando a conheci em comunidades do orkut. Ela é uma cantora de pop com grande influência de jazz e passa uma atmosfera muito serena em suas músicas. O novo álbum, com o nome de NOUS, transmite uma energia muito grande porque reflete o momento em que ela pode realmente criar o seu próprio trabalho sem grandes amarras comerciais. Então, nada mais merecido do que criar algo dedicado a ela!

A photo posted by Willian Salvario (@wsalvario) on

Aos poucos outros relatos possam aparecer conforme novas ideias me preenchem. Espero que gostem!

Até mais!

O sexto mês distante

Cogne: a primeira (pequena e bela) cidade que visitei.

 Mais um dia 9 chegou; passou e com este veio a contagem de mais um mês longe de casa. Agora, são 6 meses em Turim; 6 meses em um país diferente e com um turbilhão de experiências – tanto boas quanto algumas ruins – acumuladas na memória. A passagem do tempo é tão confusa e diferente quando se está vivendo distante; os meses voam; a vida corre tanto aqui e na querida terra de origem ao mesmo modo em que parece tudo apenas começou ontem.
 Os choques – sejam culturais, sociais ou linguísticos – aparecem constantemente. Desde o início eu tinha me proposto este desafio porque sair do constante estado de conforto é; muitas vezes, preciso para uma efetiva autoanálise. A saída do comodismo nunca foi tão forte; nunca foi tão rápida ou brusca como tem sido em muitos momentos.

Um risotto al pesto um pouco adaptado por mim.

 Redescobri em mim coisas que há muito tempo não pratica apenas pela praticidade ao meu redor: a culinária; por exemplo, virou um grande interesse. Confesso que deveria ter me focado nisto antes porque minha mãe é confeiteira (além de trabalhar com outras áreas da panificação) e sempre tive à disposição alguém para me auxiliar mas obviamente era mais oportuno somente apreciar o resultado final. Por outro lado, a distância me fez pegar o gosto por pesquisar mais sobre diversas receitas, me interessar pelo valor nutricional daquilo que eu como e me pego muitas vezes lendo sobre isto nos horários mais inusitados!

O Café des 2 Moulins e Amélie.

A pequena cidade de Fenestrelle e minha primeira neve.

 Por aqui, dependo apenas de mim. Por aqui, preciso saber lidar com o novo e aproveitar o momento apesar da ausência de quem esteve sempre junto para poder fazê-lo com as novas presenças. O percurso – por mim mesmo – me traz sempre boas lembranças. Parte da minha viagem a Paris, em outubro, com o percurso pelo bairro de Montmartre e a famosa Rua Lepic (onde tem o "café da Amélie" ou o "Café des 2 Moulins") foi feito sozinho porque meu grande amigo Guto teve de ir embora antes de mim. Não falo francês; mas me virei. Estava sozinho; mas aproveitei intensamente e a descoberta foi ainda mais intensa.
 Com as novas amizades, a descoberta foi de algo muito esperado e igualmente atrasado em suas previsões meteorológicas: a neve! Esta veio um tanto tarde – quase no fim do inverno – mas conseguimos conhecê-la. A pequena, porém calorosamente querida, cidade de Fenestrelle teve uma tarde animada por nós em contraste com todo este gelo. Sobre viagens, a minha primeira foi para Cogne e fica nas regiões de fronteira entre França e Suíça (com direito a um diferente sotaque afrancesadamente italiano).

Gelateria Monginevro, La Romana e La Voglia Matta <3

 Não poderia deixar de lado uma das maiores famas da Itália. Conhecer cada uma das gelaterias é uma atividade quase nada prazerosa! O primeiro e grande gelato que comi foi na falecida Monginevro (mas infelizmente fechou); outra muito famosa é a La Romana; mas o meu coração tem um enorme espaço para apenas uma: La Voglia Matta (ou "a vontade louca" em português); com gelatos gigantes por apenas 2 euros – tendo o simpaticíssimo Giovanni como dono – não tem como não amar. Também, se fosse para recomendar a alguém alguns sabores, diria a combinação de tiramisù (parece um bolo!), café ou chocolate e nutella (este último ele o coloca na hora!).

O meu canto em Turim.

 Apesar das ótimas vivências, a vida acadêmica não tem sido nada como o esperado. É impossível vir sem ter criado certas expectativas – mesmo tendo tentado não criar muitas – e me encontrar confuso ou incompreendido é um tanto desanimador. Ainda não consegui compreender corretamente o jeito de desenvolver o projeto de design aos moldes italianos; também ainda não tive a oportunidade de ter contato com bons professores ou compreensíveis com os estrangeiros. De qualquer modo, pode ser que o método não conflituoso àqueles que são de fora mas funcione muito bem a eles. Não sei dizer ainda. Mas tudo serve como auxílio para enxergar os esforços e o quão boa em design é a minha universidade de origem.
 Entre as oscilações que se baseiam esta grande montanha-russa emocional que é um intercâmbio; eu me encontro e preciso reunir minhas forças e otimismos porque o novo semestre acadêmico está apenas começando.

Até mais!

Studio65 & o Design Radical


 Em dezembro tive o prazer de presenciar esta mostra na Galleria d'Arte Moderna (GAM) de Turim e no mesmo dia e local também vi a exposição das obras de Monet. A mostra do Studio65 se chama "Il Mercante di Nuvole" ou "O Mercador de Nuvens" e o nome já demonstra um pouco da irreverência deste estúdio de design e arquitetura turinense – e também de um movimento – nascido em 1965.
 A exposição celebra os 50 anos de atividades do Studio65, um dos protagonistas do Pop Design italiano – ou também Design Radical – possuindo o objetivo de combater o forte conformismo perante à estética proposta pelo modernismo com novas ideias criativas. Um coletivo de arquitetos; que contava com Roberta Garosci, Enzo Bertone, Paolo Morello e Paolo Rondelli, se reúnem com Franco Audrito (também estudante e pintor) para formar uma armada em sua mansarda* (uma espécie de cômodo de casa situado numa abertura do telhado com parede inclinada e teto baixo) em Turim, situada no Corso Vittorio Emanuele 84.

L'Arca (1993)

 Em uma noite de primavera, desenham aquilo que seria a marca* do grupo; possuindo sempre a ironia em sua linguagem: o nome Studio65 escrito com uma tipografia que se remetia àquela da máquina de escrever e os quais a distribuição era frequente em frente às fábricas da época (lembrando que Turim foi famosa naquela período devido ao desenvolvimento industrial). A composição tipográfica era um tanto desconexa porque o número 65 era desenvolvido sendo metade em letras e a sua outra metade em numerais ("sessanta5") e começando um novo parágrafo depois do s duplo ("sess=anta5").
 A marca é uma declaração de guerra em relação à consolidada estrutura de linguagem de modo elitista e com o objetivo de desmascarar os valores ideológicos e propor a experimentação de novos meios de expressão linguística com a capacidade de representar o desejo por renovações e mudanças que se encontrava na juventude dos anos 60.


 O Anti-Design e o Design Radical marcam a transição do modernismo rumo à pós-modernidade. O modernismo trazia consigo a noção da racionalidade, universidade, padronização produtiva e também a utilização de paleta de cores sóbrias (como o preto, cinza e branco); por outro lado, o Anti-Design não se focava na funcionalidade e nem mesmo ao apelo comercial e abraçava de vez a efemeridade da Pop Art (a linguagem da comunicação de massa) para se apegar à ornamentação e também à decoração.
 A estética desenvolvida obtinha ênfase no uso de materiais, cores, proporções exageradas e texturas diferenciadas; resultando em peças “caricatas”, absurdas e de grande incoerência por parte da crítica da época. Neste movimento não existe a admiração em relação aos materiais na sua forma pura ou das características práticas – ao contrário – é atribuída a carga simbólica como símbolos visuais ao design. Um exemplo é a poltrona "Mickey", criada em 1972, da qual tem o conceito de trazer as histórias em quadrinhos para a vida cotidiana e também de ruptura ao poder doméstico.

Poltrona "Mickey" (1972).

 Tanto o Anti-Design quanto o Design Radical possuíam como proposta a revolução estética e sociocultural. Além disto, o Design radical questionava por que se manter com os antigos aspectos funcionais modernistas. O Anti-design não visava o mercado consumidor na elaboração dos seus projetos; mas se concentrava no estudo das possibilidades formais, buscando um novo jeito de se ver e experimentar o design com novas formas e texturas – a fim de trabalhar em função da sociedade para aprimorar o seu olhar  sobre o design; porém, o Design Radical visava diretamente à sociedade e propunha maneiras radicais (muitas vezes utópicas) para organização social e evolução cultural; ou seja, a reformulação das antigas maneiras de se fazer design mas que ainda mantivesse – de algum modo – a usabilidade do produto.

O Studio65 e a mostra "Il Mercante di Nuvole" na GAM Torino.

O Studio65 e a mostra "Il Mercante di Nuvole" na GAM Torino.

"Boccadoro" (2015).

 Uma das coisas mais interessantes desta mostra foi poder experimentar algumas das peças criadas pelo Studio65. Pude me sentar em várias poltronas! Além disto, contava com algumas salas mais interativas, com projeções de céu (e poltronas igualmente temáticas) ou projeções de guerra. Foi um dia um tanto divertido e agradável!
 Antes que me esqueça, e também àqueles que possam se interessar, um dos trabalhos que fiz na matéria de História do Design na universidade foi a criação de uma cartaz contando sobre o Anti-design. Caso queiram, podem conferi-lo no meu portfólio e também podem se aprofundar um pouco mais sobre o assunto com o artigo do blog da Universidade Ahembi que usei como referência.

Espero que tenham gostado.

Abraços!