Pitchfork Music Festival Paris 2015
sexta-feira, novembro 27, 2015![]() |
Grande Halle de la Villette |
Este festival tão aguardado por mim chegou no dia 30 de outubro. Meses antes de acontecer, eu já tinha comprado o ingresso ainda no Brasil uns dias depois da anunciação de Bjork como atração principal deste dia. Na dúvida entre comprar ou não o ingresso naquele momento; decidi garanti-lo. Mas o que não poderia nunca esperar acontecer simplesmente aconteceu: ela cancelou tudo faltando apenas 4 shows para que ela terminasse a Vulnicura Tour e o Pitchfork era um deles!
Apesar da decepção e também revolta – já que este show me significaria muito porque musicalmente ela tem um enorme espaço no meu ano – optei por não pedir reembolso e esperar por alguma esperança dela reagendar a turnê ou até mesmo mudar de ideia (ok, isto nunca aconteceria). Felizmente, colocaram alguém que é considerado a alma gêmea musical* dela e também é alguém que eu gosto muito: Thom Yorke! Não poderia ser melhor! Com certeza foi uma substituição à altura!
No final de outubro, Paris me aguardava e cheguei até esta através do famoso ônibus de viagens low-cost – “baixo custo” – chamado Megabus. Foram mais ou menos 11h20min de viagem; saí de Turim no dia 29 de outubro, às 18h40min e cheguei no dia seguinte às 6h20min na estação de Bercy (contei com a ajuda da Rebeca, que também é uma intercambista daqui e estava no mesmo ônibus, para que eu pudesse pegar o metrô. Um grande obrigado!). Depois disto, desci na estação Pyrénées para me encontrar com o meu grande amigo Guto e enfim conhecer a cidade antes de irmos ao show; mas ficarão para uma próxima postagem sobre os pontos turísticos!
Fiquei hospedado por apenas uma noite no hostel St. Christopher’s Inn Canal e fica literalmente ao lado do canal de St. Martin. Uma visão mais do que bela! A localização – apesar de não ser no centro – é próxima aos arredores de Montmartre; das estações de metrô Crimée e Gare du Nord e é uma ótima escolha para conhecer um lado menos apertadamente turístico de Paris.
Não tive do que reclamar sobre a estadia e sobre os serviços oferecidos porque eram de qualidade (Wi-Fi e café da manhã já inclusos) e todos os funcionários com os quais tive contato foram muito educados e prestativos; inclusive a recepcionista era brasileira e vive em Paris há uns 7 anos!
A localização do festival era pertíssima de onde eu estava e este foi um dos motivos pelos quais eu escolhi ficar no St. Christopher’s. O Pitchfork Festival aconteceu no Grande Halle de la Villette*, localizado no Parc de la Villette*. Ambos são um grande local de atrações culturais, esportivas e sociais em um canto não muito visado pelos turistas. Caminhei durante a noite pelo canal e cheguei ao Grande Halle em uns 15 minutos.
A programação do dia 30 contava com artistas como Dornik; Rome Fortune; Health, Rhye; Kurt Vile & The Violators; Battles; Thom Yorke e por fim Four Tet. Quando cheguei por lá; por volta das 19h20min, a dupla canadense Rhye (composta por Mike Milosh e Robin Hannibal) estava tocando e são uma mistura de soul, R&B alternativo e groovy eletrônico de um modo melodicamente romântico! A dupla possui uma vibe um tanto tranquila; mas também passa por uma certa influência de “baladinhas” dos anos 80.
A apresentação de Thom Yorke foi apenas às 21h50min. Enquanto isto, eu, Guto e também os outros três amigos fomos conhecer melhor os entornos do festival. Para comprar comida e bebidas, era preciso comprar aquelas moedinhas típicas de eventos deste tipo. Apesar disto parecer levar um grande tempo de espera, tudo foi muito rápido e recebemos um bom serviço! Além disto, havia ambientes com poltronas para se sentar e também um quiosque com roupas, vinis, CDs e afins. Infelizmente eu não assisti muito dos outros dois shows seguintes – dos quais foram Kurt Vile & The Violators (às 20h00) e Battles (às 20h55) – porque o Grande Halle estava composto por 2 palcos de que os artistas tocavam se intercambiavam (para poder dar tempo de cada banda se organizar) e decidimos esperar naquele onde o Thom Yorke tocaria. Mesmo assim já tinha gente sentada ao chão; o que foi um tanto irritante, para que pudessem pegar aquela grade! O que me chamou a atenção no Battles foi o uso de ritmos tribais mesclados com uma voz um tanto “alienígena” e com a composição musical complexa – classificada muitas vezes como “Math Rock”* – por usar dissonâncias, métricas incomuns e também ter influência de rock progressivo.
Em pouco tempo o show estaria para começar e com isto estavam finalizando a montagem dos itens do palco. As configurações de tela e o número de contagem de cada telona aos poucos se tornavam projeções da marca do projeto Tomorrow’s Modern Boxes para aumentar ainda mais a ansiedade. Não fiquei longe do palco, mas a minha vontade era de ficar ainda mais perto! O ambiente possuía uma mescla entre empolgação, curiosidade e seriedade porque o público em sua maioria não era assim mais tão teen. Mas quem liga?! O ambiente estava mais do que agradável e totalmente propício para contemplações artísticas!
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Por Vincent Arbelet |
Eis que pontualmente o tão esperado Thom Yorke apareceu! Entre a euforia e os aplausos do público, ele subia ao palco serenamente. As projeções baseadas em linhas coloridas – feitas pelo artista Tarrik Barri – começavam lentamente a se adaptar às batidas; à voz suave e ao escuro para que tudo ficasse harmonicamente e introspectivamente etéreo enquanto o show começava com "The Clock", do álbum "The Eraser (2006)". O vocal trazia um grande envolvimento, muitas vezes nos trazendo fascínio; em outras, melancolia (mas nada distante daquilo que ele sempre propôs em seus projetos) e seu final ecoavam sons de pássaros unidos às vozes computadorizadas que me lembravam um tanto daquelas de “Fitter Happier”.
A música seguinte foi “A Brain in a Bottle” e é a primeira faixa do TMD. Os “pássaros” ainda continuavam a ambientar a atmosfera assim que os primeiros acordes de guitarra aos poucos apareciam; o que deixava o single ainda mais atraente por ter este detalhe a mais em relação àquele do estúdio. É uma das poucas e mais dançantes se baseando – de certo modo – em um desafio a Deus para que tenha uma conversa sem recuos; o que a faz ser docemente intrigante e envolvente! “Come out fighting back (in the dark)” (“Saia contra-atacando (no escuro)”) – Yorke relata sobre o quão difícil é lutar no escuro e contra algo desconhecido mas que ele consegue revidar.
Em “Guess Again” é curioso de se analisar como alterna entre a breve e tímida esperança do início, a dramaticidade das batidas e o temor encontrado em sua letra porque esta fala sobre todas os pesadelos e criaturas que – metaforicamente ou não – podem lhe encarar e também chutar a sua porta! Toda a inseguranças estão ali fora, no seu jardim, estão ao redor e “adivinha quem é?” que está tentando entrar na sua mente? Elas mesmas!
Das variações de frequência e relações líricas sobre a falta de piedade em um amor que está escoando das suas mãos aparece “Truth Ray” – uma calma canção apesar do conteúdo ser dolorosamente sobre a perda de tudo e remorsos internos. Também do álbum TMD foram tocadas “Pink Section” e “Nose Grows Some”.
As expressões dos expectadores ainda eram mansamente curiosas e admiradas sobre o que ainda poderia vir. Quando o show parecia ter acabado, todos vibraram com grande fervor – entre gritos, aplausos e encantamento – para agradecer a Thom Yorke pelo ótimo concerto e isto durou por mais de 5 minutos; também, se escutavam exclamações e trocadilhos como “Björk!” ou “Thom Björk!” – afinal poderia (ainda que mínima) existir a esperança dela aparecer. Ele finalmente volta com “Default” (do projeto Atoms for Peace) para fechar o ciclo daquela noite de uma maneira estranhamente dançante!
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Por Vincent Arbelet |
Acredito que tanto o show quanto Thom Yorke como expressão artística possam ser descritos como “esquisitos”, “reflexivos” e “introspectivos”. Talvez todos que lá compareceram estivessem sutilmente procurando algo como a união reflexiva na arte. Foi um ambiente totalmente propício para a troca de energias – onde Yorke nos mostrava as suas confissões, medos e esperanças para que pudéssemos também pensar nas nossas próprias – deixando na memória as lembranças de uma noite de envolvimentos. Descrevê-lo como “etéreo” também se encaixaria perfeitamente porque em muitos momentos eu tive a sensação de estar em um plano mais distante e inconstante... Foi de certo algo como voar!
Eu só tenho de agradecer pela experiência e também pela oportunidade de ter um grande amigo – o Guto – compartilhando da mesma energia. Saímos de Curitiba para explorarmos o desconhecido por nós em diferentes cantos da Europa neste intercâmbio e este vai além do academicismo para atingir outros meios. Posso afirmar que tudo foi maravilhoso!
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Por Lelelerele Handmade |
Para finalizar, espero que esta publicação simbolize possa trazer (mesmo que apenas verbalmente) coisas boas a cidade luz em relação ao atentado ocorrido recentemente. O Festival aconteceu há algumas semanas antes desta tragédia e poderíamos ter sofrido algo também. Que a cidade possa se reconstruir e o seu povo possa reviver!
(O setlist do show pode ser visto aqui)
Abraços!
2 commenti
Que tudo!
ResponderExcluirConfesso que não conhecia a maioria das atrações musicais que você citou, mas já aqui procurando no spotify (estava mesmo precisando de novos sons).
Adoro posts/blogs sobre viagens e intercambios, e adorei conhecer o seu - tudo aqui é muito caprichado e bonito :))
Tô seguindo!
Oi Fernanda!
ExcluirEu também não conheci grande parte e se conhecia era só pelo nome! haha
Mas vale a pena conhecer coisa e renovar o repertório! :)
Muito obrigado, fico muito feliz que tenha gostado!
Adorei a temática do seu blog! Adoro essa mistura cultural e inspiradora <3
Beijos!