Candem Town & Amy Winehouse


 Há 5 anos uma alma brilhantemente talentosa nos deixou. Há 5 anos alguém que preencheu de um jeito enorme uma ótima fase da minha vida se foi. Mais uma vez, esta foi uma das artistas que eu demorei muito tempo para apreciar o trabalho dela mas quando o fiz; fiquei totalmente preso entre a arte e o seu mundo.
 A Amy fez parte do meu ano de 2011 e 2012; depois de muito tempo sendo recomendada pela minha melhor amiga dizendo sempre que eu adoraria o estilo dela. Dito e feito! Se tornou uma das minhas cantoras preferidas da época e sua poesia – apesar de na maioria das vezes mostrar as confissões sobre as dores da alma e o sufoco criativo pelo qual ela passou – me inspirou muito e ainda me inspira. Fiquei muito feliz por poder ter visto, em maio, a exposição "Amy Winehouse: A Family Portrait" no Museu Histórico Judaico em Amsterdam e agora, em julho, pude ir ao bairro onde ela morou, trabalhou e infelizmente morreu em Londres: Candem Town.



 Candem Town é um distrito em Londres e por lá é onde muita coisa alternativa acontece! Na Chalk Farm Road é onde tem muitas feiras e mercados de rua; lá se vende artesanato, chápeus, roupas, comida e é onde tem a melhor opção para comprar souvenires com um ótimo preço! Também era em um dos quiosques de Candem Market onde Amy costumava trabalhar antes da fama.
 Por lá se encontra a estátua de bronze em sua homenagem! Foi feita em 2014 por Scott Eaton e inicialmente foi proposta de ficar em um antigo galpão, onde hoje é um local para shows, chamado Roudhouse mas realmente está na Stables Market porque tem melhor localização. Falando nisto, dentro da Stables não tem nenhuma indicação sobre onde fica a estátua; mas é só seguir rumo às escadas que levam ao subsolo (sem descer!) porque está bem perto das grades.


Eu e minha miga Amy! <3
  Ainda pelos arredores, saí das feiras rumo à casa dela. Eu esperava por um prédio de grandes proporções ou até mesmo um tanto ostentadora. Mas não! O catinho dela, na Candem Square 30, é pequeno e o bairro calmamente acolhedor. Com casas bonitas, muitas árvores pelas ruas e em frente à sua casa tem um parque. Por ali é possível encontrar várias mensagens deixadas pelos fãs em homenagem ou até mesmo perucas! E sempre vai existir um brazuca para gerar algum meme, né? Teve até uma mensagem com "Miga, sua louca! Você era um máximo! [...]". Cadê a pessoa maravilhosa, que se chama Cris, que escreveu esse bilhete? Quero ser amigo! Hahaha :D





 E antes disto, tive o prazer de conhecer a exposição "Amy Winehouse: A Family Portrait"; com curadoria do seu irmão Alex Winehouse,  no Museu Histórico Judaico de Amsterdam. A narrativa vai além do superficial ou foco nos problemas vividos por ela; permitindo ao público de apreciar um pouco da sua história e vida pessoal. Mostrando ênfase no seu gostos musical, seu vestuário, contando sobre a história judaica de sua família e o seu jeito artisticamente hiperativo nos tempos de escola. É um arquivo confidencial cheio de fotos familiares, roupas, cds e até mesmo o seu primeiro violão! Também conta com uns dos grammies que ela já ganhou! Vendo os seus vestidos dá para notar o quão magra esteve nos perídos de 2007 e afins e isto me deu um grande aperto no coração.




 Apesar da grande tristeza da data, acho que seja um ótimo momento para escutar as músicas dela e se lembrar dos bons momentos de sua vida. Todo artista precisa de espaço, assim como ela sempre quis, e a inspiração e a criação são coisas que preenchem muito a vida – não só de quem a produz – mas também daqueles que a apreciam. Com certeza a admiração pelo trabalho dela durará por muitos mais anos.

Que descanse em muita paz e um grande obrigado por sua arte! <3

Até logo! :)

21 anos de Post (1995) – Björk


 Ontem, 13 de junho, um álbum maravilhoso complementou a mesma idade que eu: 21 anos! Post foi lançado em 1995, pela Björk, é considerado um dos maiores álbum dela e também um marco da década de 90. Sou muito suspeito para falar porque no ano passado eu realizei um projeto acadêmico de design com o nome de Björk's Post 20th Anniversary; consistindo na transcrição do álbum para uma proposta de série animada. Com isto, eu estudei sobre a sua produção, conceito e muitas influências por trás da sua criação. Posso afirmar que foi o trabalho em que tive mais prazer de realizar durante toda a minha faculdade; já que esse foi no meu último e quarto ano. Realizei também um livreto descritivo mostrando todo o enredo que criei; com ilustrações, conceitos e também os pôsteres de divulgação do projeto. Caso queiram vê-lo, é só acessar o meu portfólio.


Björk's Post 20th Anniversary: meu projeto em comemoração ao vigésimo ano do álbum. <3


 Björk considera Post como um álbum destemido porque fala sobre que deixa o seu lar, sua cidade para encarar um novo e inexplorado mundo. O álbum é o reflexo das suas vivências depois de se mudar para Londres; onde ela pôde se adentrar à cena urbana e musical da cidade, absorvendo influências do trip-hop e misturando também com o jazz, a música ambiente e também com a eletrônica – e esta é um dos seus traços mais marcantes ao longo da sua carreira.
 Ela deixa o seu lar para viver coisas totalmente novas; ela descobre que há mais pessoas que pensam como ela e que o álbum consegue ter braveza ao mesmo tempo em que consegue ser assustador. Estes pensamentos me fizeram entrar neste universo de um jeito muito forte porque estava prestes a começar o meu intercâmbio e a minha jornada. Tudo novo. Tudo euforicamente e assustadoramente novo. Então a empatia sobre a grande incerteza que é explorar um novo lugar me tomou conta!

 A abertura de Post é com a música "Army of Me" e esta tem uma pegada agressiva e industrial. É dedicada ao irmão mais novo dela como uma forma de conselho – mesmo que agressivo – para que possa levantar e trabalhar porque não tem nada de errado nele.
 A segunda música – "Hyperballad" – além de ter um clipe poeticamente tecnológico, possui um instrumental muito bonito (que eu recomendo escutar a versão estendida, caso veja o clipe, porque é possível escutá-lo nela). Ela também diz que Hyperballad é "uma música de amor escrita por Aphex Twin"* e o seu conteúdo é um tanto curioso: é a descrição sobre viver no topo de uma montanha e vendo o pôr do sol através de um penhasco. De lá, Björk joga objetivos enquanto pensa em seu próprio suicídio e este ritual lhe permite exorcizar os pensamentos ruins e retornar ao seu amado.
 E por que um suicídio? Por que se desfazer destes objetos? Tudo isto é devido ao sentimento de se livrar das frustrações. Hyperballad é sobre estar tudo bem em um relacionamento apesar de você ter desistido ou cedido de algumas partes de si mesmo porque estar em uma troca amorosa é dar várias partes de você ao ponto de ser um único e simples indivíduo já não é tão importante.  É como se cada um precisasse esquecer um pouco de si dentro de uma relação.


 Como Post é algo aventureiro, as músicas atravessam pelos mais diferentes climas. Em alguns momentos é totalmente eufórico, agitado e agressivo – como em "Enjoy"; "It's Oh So Quiet" e "I Miss You"; em outras é simplesmente analítico, calmo ou esperançoso  – por exemplo, em "The Modern Things" e "You've Been Flirting Again" ou "Isobel" – você sabia que este último foi dedicado a Elis Regina?! Pois é! Em outros possui um tom um tanto misterioso e tenebroso – tendo estas características em "Cover Me" e "Headphones".


 Uma das músicas que eu mais gosto – seja pelo conceito da letra quanto o instrumental ou clipe – é "Possibly Maybe". Björk a considera como a "primeira música sombria*" dela porque ela diz que esta não "estava trazendo esperança"; que estava se sentindo envergonhada já que que o sentimento de ser feliz ou ser furiosamente otimista é algo muito islandês. Foram tempos difíceis para Björk pois parecia que nada estava acontecendo.
 O que me atrai em Possibly Maybe* é desenvolvimento da obra como se fosse cada mês do ano. O primeiro verso é fevereiro e o seguinte é março; é como se fossem 30 segundos entre cada um dos versos para dar sequência ao próximo mês. A tentativa é demonstrar a passagem do tempo em um relacionamento ou os diferentes estágios de uma separação.


 Eu poderia ficar horas e horas comentando sobre os encantos de cada composição do Post se me deixassem, haha.  É um álbum que me representou muito no ano passado e ter desenvolvido um projeto baseado nele me deixou ainda mais admirado. Espero que esta postagem lhes motive a conhecê-lo e que vejam também o livreto do meu projeto gráfico porque talvez possam lhe ajudar ainda mais a ilustrar visualmente este aniversariante.

Feliz aniversário, Post!

Até mais!

Uma noite mágica com Florence + The Machine


 Florence é uma das artistas nas quais eu sempre tive um certo interesse sobre o trabalho; mas sempre adiava o dia em que eu realmente pararia para apreciá-lo. Sempre deixei para um outro momento. Isto talvez se dê porque eu sei que vou entrar totalmente no seu mundo artístico e ficar tempos admirando os conceitos, inspirações e fundamentos.
 Conhecia algumas coisas aleatoriamente sobre sua música, porém em um certo dia, saiu por aqui o anúncio da realização de dois shows nos territórios italianos para a How Blue Tour: Bolonha (no dia 13 de abril) e Turim (no dia 14). Aqui estava uma ótima oportunidade para conhecê-la melhor! Então, comprei o ingresso para mim e meus amigos (a This e o Halley); logo outras amigas e amigos compraram o deles também.

Da esquerda à direita: a Rebecca, Jéssica, Jack, Roberta e Thís (em baixo).

 É engraçado comprar ingressos com muita antecedência porque tendemos a nos esquecer da data ao pensar que está mundo longe, não? Algumas vezes até pensei em vender o ingresso porque estava sem muitos ânimos.... De repente, o dia estava mais do que próximo; voltei a me animar e ainda bem que não o vendi!
 Horas antes do show, eu me reuni com algumas amigas para conversarmos, nos aquecermos ao escutar músicas da Florence e também para pintarmos os nossos rostos. As meninas colocaram coroas de flores, tiramos fotos e foi tudo muito divertido! Todas com um look místico e humanas!  E como estávamos na casa de uma delas; que mora perto do local onde aconteceu o espetáculo, fomos caminhando até lá.
 Não chegamos muito cedo e fomos para lá um tanto depois da abertura dos portões; pensei que estaria com filas enormes e que estivesse um caos mas felizmente entramos muito rápido (não deve ter demorado mais de 15 minutos!). O irônico é que não teve revista de mochilas e essas coisas. É tão estranho entrar em um evento assim, já que estamos acostumados com esses procedimentos chatos.


 Quando finalmente achamos um lugar legal na pista, a organização ajeitava os últimos detalhes dos instrumentos para a banda, os backing vocals e a própria Florence arrasarem por lá. O PalaAlpi Tour não é um estádio assim tão gigantesco e estávamos um tanto perto do palco. Os ladrilhos cromados –  ao fundo do palco – reluziam as luzes que; ora eram brancas, azuis, alaranjadas ou em tons amarelados.
 Entre as fumaças que traziam um clima etéreo ao local, Florence apareceu! Ela estava com um vestido longo e com transparências, pés descalços e toda misteriosa em sua simplicidade. O show começou com “What the Water Gave Me” do seu segundo álbum, “Cerimonials” (2011). Acredito que o interessante desta música como abertura é como possui uma grande variação entre uma atmosfera mais tensa em seu começo para trazer, em seu decorrer, a euforia e a agitação dos vocais em versos como “Lay me down, Let the only sound, Be the overflow.” (“Deite-me, deixe que o único som, seja o transbordamento”). A segunda música foi “Ship to Wreck”; do álbum mais recente –  o How Big, How Blue, How Beautiful – trazendo um alegre estímulo com os vocais e instrumentais.


 Algumas músicas do primeiro álbum também apareceram em seguida; como “Bird Song (Intro)” e “Rabbit Heart (Raise It Up)”. Eu também me lembro dela se abrir de cantar a música “Shake It Out” ao dizer que esta foi escrita como um modo dela “se livrar dos arrependimentos; das coisas que possam nos assombrar”; é uma música realmente libertadora! Além disto, também cantou a música “Sweet Nothing” mas sem a versão eletrônica do Calvin Harris, hehe. Foi um cover ao melhor jeitinho místico e celestial dela!


 Um dos momentos mais introspectivos dela foi ao cantar “How Big, How Blue, How Beautiful”. No momento em que os arranjos orquestrais e instrumentos de sopro tomam conta da música, em seu momento de mágica leveza, a Flô (para os íntimos, haha) trava uma luta consigo mesma: ela performa dando socos em si mesma como se estivesse brigando com alguém. Foi algo engraçado quando ela disse algo como “Ah! Vocês estão por aí? É difícil notá-los quando se está dando socos no seu próprio rosto!”. Sendo mais uma vez encantadora! <3


 A Florence possui uma energia de parco incrível! Ela tem uma grande leveza em sua voz; que por sinal, chegavam a parecer inocentemente infantil nos momentos de conversa com o público. Ao mesmo tempo, transmite grande efervescência ao correr de um lado ao outro – com os pés descalços – pelo o palco como se tudo fosse uma mágica floresta. Sempre com discursos sobre transmitir o amor às pessoas ao redor, Florence também incentivou ao público a dar abraços naqueles que estavam ao seu lado; em tocar o rosto deles e distribuir este bom sentimento a todos. Foram ótimos os momentos em que ela subia na grade; descia ou andava por fora do palco, para se conectar com os fãs e também quando pegou uma coroa de flores de um deles.


 Foi uma grande troca de energias! Por vários momentos, fiquei com um sorriso bobo ao admirar toda essa bondade que ela tem. Posso afirmar que foi um momento de renovação dos sentimentos para poder limpar a mente e a alma dos demais problemas. Uma noite, com a mais absoluta certeza, mágica! <3
(P.S.: As fotos desta postagem marcam a estreia da minha mais nova câmera <3).

(O setlist do show pode ser visto aqui

Espero que tenham gostado!

Até mais!

Meu 2015 musical


 Enfim as correrias das festividades de fim de ano passaram e já estamos no início de outros afazeres e agitações cotidianas. Escrever sobre um ano musical – e tentar resumir cada mês em uma música – não é uma tarefa fácil! Preciso dizer que sempre tendi ao lado saudosista e com isto fico mentalmente definindo aspectos de cada ano que se passou com uma música, um filme, um livro ou qualquer outro jeito de associação; mas realmente nunca tinha feito uma lista.

 Eu descrevo 2015 como um ano de "espera". Foi o aguardo por resultados de processos – alguns angustiantes porém todos cheios de esperança – do ano anterior e da metade do retrasado porque foi o ano em que realizei uma cirurgia ortognática * * (com o objetivo de corrigir o posicionamento dos ossos da minha mandíbula e maxila) e também me recuperar a tempo de partir para o meu atual intercâmbio na Itália.
 A música estava ainda mais forte na minha rotina já que fiquei um grande tempo me recuperando em casa e a ansiedade por tudo que ainda estaria por vir me trazia inspiração de algum modo. Nesta retrospectiva, também, o desafio foi não colocar muitas músicas de Björk porque ela foi a maior definição do meu ano pois foi uma redescoberta – que já tinha começado no fim do ano de 2014. Era uma das artistas que no meu interior eu sabia que entraria me apaixonaria pelo seu mundo artístico. Posso afirmar que foi assim! Tanto é que realizei um projeto acadêmico que eu mais adorei desenvolver e me orgulho do resultado; o Björk's Post 20th Anniversary, em que consistiu na transcrição de mídia do álbum Post (1995) em uma série animada com enredo, ilustrações e outras referências. Mas retorno a falar deste querido projeto quando retomar a tag #Sketchbook pois tenho coisas antigas para mostrar e novas para criar!

Bem, que venham as músicas!


JANEIRO
"Travel Light" – The Dø (2008)



"I got something in my head like a lion in a cage starving wild-
And I’ve ran out of meat
Something in my head something crawling like a snake
in my bed made me rip off my sheets"

 No primeiro mês do ano fui apresentado por um amigo a esta banda francesa e que foi criada em 2005. "Travel Light" está no álbum "A Mouthful" de 2008, com uma pegada indie pop e folk rock de um jeito muito suave. A música fala sobre algo que está dormente em sua cabeça e que se está com receio de acordá-la; também fala daquele profundo sentimento – que muitas vezes incomoda – que lhe faz querer correr e mudar o próprio mundo. É uma luta introspectiva estando sozinho em uma selva ("[...] an awkward situation trying to fight the jungle alone") mas que de qualquer modo é preciso persistir caso queira viajar tranquilamente.
 Esta é a abertura do meu 2015 porque aparece como um meio de saudar a inspiração e esperar pela chegada dos tão ansiosos objetivos. Neste mês também enviei minhas cartas de motivação para o Ciência sem Fronteiras com a escolha de três cidades italianas para morar e também voltei com a fazer desenhos e pinturas.



FEVEREIRO
"There She Goes" – Sixpence None the Richer (1999)



"There she goes
There she goes again
Pulsin through my veins
And i just can't contain
This feeling that remains"

 Foi um mês tranquilo e também criativo porque pratiquei bastante técnicas artísticas. Fiz uma ilustração em aquarela da Duffy; postei no instagram e recebi resposta dela! Também, foi o mês em que eu e uma das minhas melhores amigas, a Maya Rondanini, ficamos viciados na vibe 90s do Sixpence None the Richer e "There She Goes" me faz lembrar muito dela. Esta música me dá vontade de dançar loucamente em meio à multidão com a Maya sem ligar para o resto do mundo (e isto, consequentemente, me vêm à cabeça cenas de "As Vantagens de Ser Invisível". No fim de fevereiro voltei às aulas da universidade e este era para ser o meu último ano – com o monstro do TCC – caso eu não tivesse vindo para Turim.




MARÇO

"Life on Mars?" – David Bowie (1971)



"But her friend is no where to be seen
Now she walks through her sunken dream
To the seats with the clearest view (...)"

 Um dos meses mais ansiosos e também com queridos momentos. Aqui comecei a frequentar mais vezes a rua São Francisco, em Curitiba, com alguns novos amigos e aproveitando melhor as minhas noites de sábado; na metade do mês eu fui a um evento chamado Volcano #3 com as bandas O Terno; Ruído/mm e Tods. Foi uma noite muito legal porque estas saídas aos eventos e lugares mais alternativos sempre ficam guardadas como algo bom na minha memória! Mas o momento mais esperado ainda estava por vir: a cirurgia ortognática que foi marcada para o dia 24 de março às 7h00min. Sempre me lembro de tê-la escutado – tanto no dia anterior quanto em algumas horas antes da cirurgia – junto com "There She Goes".
  "Life on Mars?" me apareceu enquanto estava começando a assistir a quarta temporada de American Horror Story – que por sinal não terminei de assistir – e me trouxe de volta o fascínio em David Bowie e agora na versão de Jessica Lange. A música fala sobre a reação de uma sensível garota em relação à mídia, suas emoções e o desejo de escapar das deprimentes restrições do mundo real; mas ainda há esperança – ainda que mínima – para se esquecer dos problemas. Assim, "Life on Mars?" me preencheu com a apreensão de um problema que me incomodava há um bom tempo e que logo estaria por acabar (apesar do período pós-operatório também não ser nada fácil).



ABRIL

"Wandering Star" – Portishead (1994)



"Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever"

Entre este mês e o próximo, eu estive curtindo bastante a vibe 90s do triphop –  ainda mais incrementadas com as dicas de álbuns de trip hop do Miojo Indie – então não seria nada mais do que justo citar o Portishead e o sombrio álbum "Dummy". Este mês foi o mais difícil da minha recuperação da cirurgia porque não podia mastigar absolutamente nada por volta de uns dois meses e meio; sem falar no inchaço e outras dificuldades. A sensação era muito estranha e o meu rosto consequentemente estava muito sensível. Apesar de "Wandering Star" ser uma música que retrata claramente sobre depressão, tanto esta quanto o álbum todo me encantaram com os seu vocal e instrumental – como o uso do theremin * em "Mysterons" – e também esta atmosfera etérea e nebulosa me chamaram muito a atenção.



Pitchfork Music Festival Paris 2015

Grande Halle de la Villette

Este festival tão aguardado por mim chegou no dia 30 de outubro. Meses antes de acontecer, eu já tinha comprado o ingresso ainda no Brasil uns dias depois da anunciação de Bjork como atração principal deste dia. Na dúvida entre comprar ou não o ingresso naquele momento; decidi garanti-lo. Mas o que não poderia nunca esperar acontecer simplesmente aconteceu: ela cancelou tudo faltando apenas 4 shows para que ela terminasse a Vulnicura Tour e o Pitchfork era um deles!

Apesar da decepção e também revolta – já que este show me significaria muito porque musicalmente ela tem um enorme espaço no meu ano – optei por não pedir reembolso e esperar por alguma esperança dela reagendar a turnê ou até mesmo mudar de ideia (ok, isto nunca aconteceria). Felizmente, colocaram alguém que é considerado a alma gêmea musical* dela e também é alguém que eu gosto muito: Thom Yorke! Não poderia ser melhor! Com certeza foi uma substituição à altura!

No final de outubro, Paris me aguardava e cheguei até esta através do famoso ônibus de viagens low-cost – “baixo custo” – chamado Megabus. Foram mais ou menos 11h20min de viagem; saí de Turim no dia 29 de outubro, às 18h40min e cheguei no dia seguinte às 6h20min na estação de Bercy (contei com a ajuda da Rebeca, que também é uma intercambista daqui e estava no mesmo ônibus, para que eu pudesse pegar o metrô. Um grande obrigado!). Depois disto, desci na estação Pyrénées para me encontrar com o meu grande amigo Guto e enfim conhecer a cidade antes de irmos ao show; mas ficarão para uma próxima postagem sobre os pontos turísticos!



 
Fiquei hospedado por apenas uma noite no hostel St. Christopher’s Inn Canal e fica literalmente ao lado do canal de St. Martin. Uma visão mais do que bela! A localização – apesar de não ser no centro – é próxima aos arredores de Montmartre; das estações de metrô Crimée e Gare du Nord e é uma ótima escolha para conhecer um lado menos apertadamente turístico de Paris. Não tive do que reclamar sobre a estadia e sobre os serviços oferecidos porque eram de qualidade (Wi-Fi e café da manhã já inclusos) e todos os funcionários com os quais tive contato foram muito educados e prestativos; inclusive a recepcionista era brasileira e vive em Paris há uns 7 anos!

 A localização do festival era pertíssima de onde eu estava e este foi um dos motivos pelos quais eu escolhi ficar no St. Christopher’s. O Pitchfork Festival aconteceu no Grande Halle de la Villette*, localizado no Parc de la Villette*. Ambos são um grande local de atrações culturais, esportivas e sociais em um canto não muito visado pelos turistas. Caminhei durante a noite pelo canal e cheguei ao Grande Halle em uns 15 minutos.

A programação do dia 30 contava com artistas como Dornik; Rome Fortune; Health, Rhye; Kurt Vile & The Violators; Battles; Thom Yorke e por fim Four Tet. Quando cheguei por lá; por volta das 19h20min, a dupla canadense Rhye (composta por Mike Milosh e Robin Hannibal) estava tocando e são uma mistura de soul, R&B alternativo e groovy eletrônico de um modo melodicamente romântico! A dupla possui uma vibe um tanto tranquila; mas também passa por uma certa influência de “baladinhas” dos anos 80.



A apresentação de Thom Yorke foi apenas às 21h50min. Enquanto isto, eu, Guto e também os outros três amigos fomos conhecer melhor os entornos do festival. Para comprar comida e bebidas, era preciso comprar aquelas moedinhas típicas de eventos deste tipo. Apesar disto parecer levar um grande tempo de espera, tudo foi muito rápido e recebemos um bom serviço! Além disto, havia ambientes com poltronas para se sentar e também um quiosque com roupas, vinis, CDs e afins. Infelizmente eu não assisti muito dos outros dois shows seguintes – dos quais foram Kurt Vile & The Violators (às 20h00) e Battles (às 20h55) – porque o Grande Halle estava composto por 2 palcos de que os artistas tocavam se intercambiavam (para poder dar tempo de cada banda se organizar) e decidimos esperar naquele onde o Thom Yorke tocaria. Mesmo assim já tinha gente sentada ao chão; o que foi um tanto irritante, para que pudessem pegar aquela grade! O que me chamou a atenção no Battles foi o uso de ritmos tribais mesclados com uma voz um tanto “alienígena” e com a composição musical complexa – classificada muitas vezes como “Math Rock* – por usar dissonâncias, métricas incomuns e também ter influência de rock progressivo.



 
 Em pouco tempo o show estaria para começar e com isto estavam finalizando a montagem dos itens do palco. As configurações de tela e o número de contagem de cada telona aos poucos se tornavam projeções da marca do projeto Tomorrow’s Modern Boxes para aumentar ainda mais a ansiedade. Não fiquei longe do palco, mas a minha vontade era de ficar ainda mais perto! O ambiente possuía uma mescla entre empolgação, curiosidade e seriedade porque o público em sua maioria não era assim mais tão teen. Mas quem liga?! O ambiente estava mais do que agradável e totalmente propício para contemplações artísticas!

Por Vincent Arbelet


Eis que pontualmente o tão esperado Thom Yorke apareceu! Entre a euforia e os aplausos do público, ele subia ao palco serenamente. As projeções baseadas em linhas coloridas – feitas pelo artista Tarrik Barri – começavam lentamente a se adaptar às batidas; à voz suave e ao escuro para que tudo ficasse harmonicamente e introspectivamente etéreo enquanto o show começava com "The Clock", do álbum "The Eraser (2006)". O vocal trazia um grande envolvimento, muitas vezes nos trazendo fascínio; em outras, melancolia (mas nada distante daquilo que ele sempre propôs em seus projetos) e seu final ecoavam sons de pássaros unidos às vozes computadorizadas que me lembravam um tanto daquelas de “Fitter Happier”.


A música seguinte foi “A Brain in a Bottle” e é a primeira faixa do TMD. Os “pássaros” ainda continuavam a ambientar a atmosfera assim que os primeiros acordes de guitarra aos poucos apareciam; o que deixava o single ainda mais atraente por ter este detalhe a mais em relação àquele do estúdio. É uma das poucas e mais dançantes se baseando – de certo modo – em um desafio a Deus para que tenha uma conversa sem recuos; o que a faz ser docemente intrigante e envolvente! “Come out fighting back (in the dark)” (“Saia contra-atacando (no escuro)”) – Yorke relata sobre o quão difícil é lutar no escuro e contra algo desconhecido mas que ele consegue revidar.

Em “Guess Again” é curioso de se analisar como alterna entre a breve e tímida esperança do início, a dramaticidade das batidas e o temor encontrado em sua letra porque esta fala sobre todas os pesadelos e criaturas que – metaforicamente ou não – podem lhe encarar e também chutar a sua porta! Toda a inseguranças estão ali fora, no seu jardim, estão ao redor e “adivinha quem é?” que está tentando entrar na sua mente? Elas mesmas!


Das variações de frequência e relações líricas sobre a falta de piedade em um amor que está escoando das suas mãos aparece “Truth Ray” – uma calma canção apesar do conteúdo ser dolorosamente sobre a perda de tudo e remorsos internos. Também do álbum TMD foram tocadas “Pink Section” e “Nose Grows Some”.


 
As expressões dos expectadores ainda eram mansamente curiosas e admiradas sobre o que ainda poderia vir. Quando o show parecia ter acabado, todos vibraram com grande fervor – entre gritos, aplausos e encantamento – para agradecer a Thom Yorke pelo ótimo concerto e isto durou por mais de 5 minutos; também, se escutavam exclamações e trocadilhos como “Björk!” ou “Thom Björk!” – afinal poderia (ainda que mínima) existir a esperança dela aparecer. Ele finalmente volta com “Default” (do projeto Atoms for Peace) para fechar o ciclo daquela noite de uma maneira estranhamente dançante!

Por Vincent Arbelet

 
Acredito que tanto o show quanto Thom Yorke como expressão artística possam ser descritos como “esquisitos”, “reflexivos” e “introspectivos”. Talvez todos que lá compareceram estivessem sutilmente procurando algo como a união reflexiva na arte. Foi um ambiente totalmente propício para a troca de energias – onde Yorke nos mostrava as suas confissões, medos e esperanças para que pudéssemos também pensar nas nossas próprias – deixando na memória as lembranças de uma noite de envolvimentos. Descrevê-lo como “etéreo” também se encaixaria perfeitamente porque em muitos momentos eu tive a sensação de estar em um plano mais distante e inconstante... Foi de certo algo como voar!

Eu só tenho de agradecer pela experiência e também pela oportunidade de ter um grande amigo – o Guto – compartilhando da mesma energia. Saímos de Curitiba para explorarmos o desconhecido por nós em diferentes cantos da Europa neste intercâmbio e este vai além do academicismo para atingir outros meios. Posso afirmar que tudo foi maravilhoso!

Por Lelelerele Handmade




Para finalizar, espero que esta publicação simbolize possa trazer (mesmo que apenas verbalmente) coisas boas a cidade luz em relação ao atentado ocorrido recentemente. O Festival aconteceu há algumas semanas antes desta tragédia e poderíamos ter sofrido algo também. Que a cidade possa se reconstruir e o seu povo possa reviver!

(O setlist do show pode ser visto aqui)

Abraços!