Meu 2015 musical

terça-feira, janeiro 05, 2016


 Enfim as correrias das festividades de fim de ano passaram e já estamos no início de outros afazeres e agitações cotidianas. Escrever sobre um ano musical – e tentar resumir cada mês em uma música – não é uma tarefa fácil! Preciso dizer que sempre tendi ao lado saudosista e com isto fico mentalmente definindo aspectos de cada ano que se passou com uma música, um filme, um livro ou qualquer outro jeito de associação; mas realmente nunca tinha feito uma lista.

 Eu descrevo 2015 como um ano de "espera". Foi o aguardo por resultados de processos – alguns angustiantes porém todos cheios de esperança – do ano anterior e da metade do retrasado porque foi o ano em que realizei uma cirurgia ortognática * * (com o objetivo de corrigir o posicionamento dos ossos da minha mandíbula e maxila) e também me recuperar a tempo de partir para o meu atual intercâmbio na Itália.
 A música estava ainda mais forte na minha rotina já que fiquei um grande tempo me recuperando em casa e a ansiedade por tudo que ainda estaria por vir me trazia inspiração de algum modo. Nesta retrospectiva, também, o desafio foi não colocar muitas músicas de Björk porque ela foi a maior definição do meu ano pois foi uma redescoberta – que já tinha começado no fim do ano de 2014. Era uma das artistas que no meu interior eu sabia que entraria me apaixonaria pelo seu mundo artístico. Posso afirmar que foi assim! Tanto é que realizei um projeto acadêmico que eu mais adorei desenvolver e me orgulho do resultado; o Björk's Post 20th Anniversary, em que consistiu na transcrição de mídia do álbum Post (1995) em uma série animada com enredo, ilustrações e outras referências. Mas retorno a falar deste querido projeto quando retomar a tag #Sketchbook pois tenho coisas antigas para mostrar e novas para criar!

Bem, que venham as músicas!


JANEIRO
"Travel Light" – The Dø (2008)



"I got something in my head like a lion in a cage starving wild-
And I’ve ran out of meat
Something in my head something crawling like a snake
in my bed made me rip off my sheets"

 No primeiro mês do ano fui apresentado por um amigo a esta banda francesa e que foi criada em 2005. "Travel Light" está no álbum "A Mouthful" de 2008, com uma pegada indie pop e folk rock de um jeito muito suave. A música fala sobre algo que está dormente em sua cabeça e que se está com receio de acordá-la; também fala daquele profundo sentimento – que muitas vezes incomoda – que lhe faz querer correr e mudar o próprio mundo. É uma luta introspectiva estando sozinho em uma selva ("[...] an awkward situation trying to fight the jungle alone") mas que de qualquer modo é preciso persistir caso queira viajar tranquilamente.
 Esta é a abertura do meu 2015 porque aparece como um meio de saudar a inspiração e esperar pela chegada dos tão ansiosos objetivos. Neste mês também enviei minhas cartas de motivação para o Ciência sem Fronteiras com a escolha de três cidades italianas para morar e também voltei com a fazer desenhos e pinturas.



FEVEREIRO
"There She Goes" – Sixpence None the Richer (1999)



"There she goes
There she goes again
Pulsin through my veins
And i just can't contain
This feeling that remains"

 Foi um mês tranquilo e também criativo porque pratiquei bastante técnicas artísticas. Fiz uma ilustração em aquarela da Duffy; postei no instagram e recebi resposta dela! Também, foi o mês em que eu e uma das minhas melhores amigas, a Maya Rondanini, ficamos viciados na vibe 90s do Sixpence None the Richer e "There She Goes" me faz lembrar muito dela. Esta música me dá vontade de dançar loucamente em meio à multidão com a Maya sem ligar para o resto do mundo (e isto, consequentemente, me vêm à cabeça cenas de "As Vantagens de Ser Invisível". No fim de fevereiro voltei às aulas da universidade e este era para ser o meu último ano – com o monstro do TCC – caso eu não tivesse vindo para Turim.




MARÇO

"Life on Mars?" – David Bowie (1971)



"But her friend is no where to be seen
Now she walks through her sunken dream
To the seats with the clearest view (...)"

 Um dos meses mais ansiosos e também com queridos momentos. Aqui comecei a frequentar mais vezes a rua São Francisco, em Curitiba, com alguns novos amigos e aproveitando melhor as minhas noites de sábado; na metade do mês eu fui a um evento chamado Volcano #3 com as bandas O Terno; Ruído/mm e Tods. Foi uma noite muito legal porque estas saídas aos eventos e lugares mais alternativos sempre ficam guardadas como algo bom na minha memória! Mas o momento mais esperado ainda estava por vir: a cirurgia ortognática que foi marcada para o dia 24 de março às 7h00min. Sempre me lembro de tê-la escutado – tanto no dia anterior quanto em algumas horas antes da cirurgia – junto com "There She Goes".
  "Life on Mars?" me apareceu enquanto estava começando a assistir a quarta temporada de American Horror Story – que por sinal não terminei de assistir – e me trouxe de volta o fascínio em David Bowie e agora na versão de Jessica Lange. A música fala sobre a reação de uma sensível garota em relação à mídia, suas emoções e o desejo de escapar das deprimentes restrições do mundo real; mas ainda há esperança – ainda que mínima – para se esquecer dos problemas. Assim, "Life on Mars?" me preencheu com a apreensão de um problema que me incomodava há um bom tempo e que logo estaria por acabar (apesar do período pós-operatório também não ser nada fácil).



ABRIL

"Wandering Star" – Portishead (1994)



"Wandering stars, for whom it is reserved
The blackness of darkness forever"

Entre este mês e o próximo, eu estive curtindo bastante a vibe 90s do triphop –  ainda mais incrementadas com as dicas de álbuns de trip hop do Miojo Indie – então não seria nada mais do que justo citar o Portishead e o sombrio álbum "Dummy". Este mês foi o mais difícil da minha recuperação da cirurgia porque não podia mastigar absolutamente nada por volta de uns dois meses e meio; sem falar no inchaço e outras dificuldades. A sensação era muito estranha e o meu rosto consequentemente estava muito sensível. Apesar de "Wandering Star" ser uma música que retrata claramente sobre depressão, tanto esta quanto o álbum todo me encantaram com os seu vocal e instrumental – como o uso do theremin * em "Mysterons" – e também esta atmosfera etérea e nebulosa me chamaram muito a atenção.






MAIO

"Miracles (Back in Time)" – The Dø (2014)



"I still care about you being well
I still wonder how we conquered hell
I still love the nonsense team we make
I still think we're twisted both the same" 

Apesar de ainda estar em recuperação, voltei a frequentar as aulas da universidade no início deste mês. O primeiro trabalho que fiz neste retorno foi a criação de um rapport drop (um termo francês e em português usado como “repetição” ou "módulo") para aplicação manual de estamparia em uma folha de tamanho A1 (59,4cm × 84,1cm) e tenho de dizer que na época eu achei um tanto chato porque era muito trabalhoso mas agora eu posso enxergar que foi algo muito legal já que gostei do resultado (pode vê-lo aqui)! Além disto, visitei no MON as exposições (com o meu irmão e uma das minhas melhores amigas) de obras de arte apreendidas na operação Lava Jato e "Audácia Concreta" – do artista paulista Luiz Sacilotto – obras das quais também possuem muitas formas geométricas e utilização de modularidade.
 "Miracles (Back in Time)" me representa neste mês porque foi um período em que essa minha melhor amiga não estava passando internamente por bons momentos e isto me magoava. O passeio ao MON me rendeu algumas reflexões e a letra desta música serve como um convite às boas recordações já vivenciadas por nós e demonstra que alguém ainda liga para você porque a essência sempre esteve onde deveria ficar. É preciso olhar docemente ao passado e usar tudo o que nos fez bem como um meio de melhorar o nosso futuro!



JUNHO

"Hunting for Pearls" – Iamamiwhoami (2014)



"In the strangest lands I will grasp my chance
Sing the unsung words I have searched to spell" 

No fim deste mês foi a entrega do projeto Björk's Post 20th Anniversary; então eu me dediquei totalmente nele e colocaria facilmente o álbum "Post" inteiro aqui! Mas como o objetivo é apenas uma música, eu escolhi "Hunting for Pearls" porque foi uma data que passei a dar atenção ao projeto eletrônica da cantora sueca Jonna Lee e muitas de suas músicas ficaram na minha cabeça por semanas. O mais interessante, para mim, é a atmosfera nórdica e gélida que ela quer transmitir ao público e a música é uma retomada sobre os próprios bens; se arriscando na caça no fundo de um imenso e assombroso oceano.



JULHO

"Veni Vidi Vici" – Madonna (2015)



"I was fearless, like a renegade
I had a feeling, that I can't explain
I didn't listen, to what people said
I came I saw I conquered" 

 Nunca pensei que colocaria qualquer música dela nesta lista mas ela merece estar aqui porque eu me despi de qualquer preconceito para que pudesse conhecer o álbum "Rebel Heart" – e posso garantir que foi uma experiência muito boa! A música "Veni Vidi Vici", além de ser uma famosa frase latina dita por Júlio Cesar* e significa "Vim, vi, venci", fala sobre a trajetória da vida de Madonna rumo ao seu sucesso. Como não sou fã, não sei entrar em detalhes, mas musicalmente o álbum tem uma pegada bem serena; possui uma mescla atraente de batidas eletrônicas com violões e me parece muito com uma biografia auditiva. Além disto, a escolha da música tem tudo a ver com a aproximação da minha partida para intercâmbio (já que comprei as passagens aéreas neste mês) e comecei a resolver outras burocracias relacionadas à viagem.



AGOSTO

"Tom's Diner" – Giorgio Moroder & Britney Spears (2015)



"Everybody's welcome, come on
Come on in
Sit yourself down
The fun does never ends"

Eu me lembro desta música de um jeito muito querido e animado porque eu a coloquei na minha playlist de despedida para comemorar com os amigos o meu intercâmbio que estava muito próximo de começar. A festa foi feita na minha casa e tinha muita – mas muita – delícia gastronômica feita pela minha querida mãe! Sorte minha de ter uma que é profissional na área de confeitaria! Então, foi uma noite animada; com muitas conversas, músicas e a presença de todos foi algo maravilhoso. "Tom's Diner" cantada por Giorgio Moroder e Britney Spears é uma regravação da música de Suzanne Vega e foi escrita através da visão masculina de um de seus amigos. O local da música é o Tom's Restaurant – em Nova Iorque – e a cantora se imagina sentada por lá tentando imaginar como o seu amigo veria as mesmas coisas que ela viu.



SETEMBRO

"Crying" – Björk (1993)



"I travel
All around the city
Go in and out of
Locomotives
All alone"

 O mês em que eu vim para Turim e tudo mudou! Com atrasos nos voos; um acidente com a minha amiga e colega de apê Thís (que deslocou o braço em menos de 30 minutos da nossa chegada); cama quebrada no primeiro dia; me sentir totalmente perdido na geografia da cidade; resolver burocracias da imigração e de fato entrar no novo ritmo.  "Crying" tem um ritmo eletronicamente pop do dance music; é do primeiro álbum solo da querida Björk e a letra demonstra claramente tudo o que eu senti; e no caso dela, retrata o período antes da sua mudança à Inglaterra.
 Pois é, foi um mês que passou muito rápido e a partir deste o sentimento de estranheza – e muitas vezes solidão – sobre um lugar desconhecido vai e vem até a mim. É engraçado que esta música fez parte de mim mesmo antes de vir e me imaginava com a vontade de correr pelas ruas, corredores e prédios na tentativa de abraçar todos estes. Também me imaginava correndo pela Venaria Reale e, acreditem, eu ainda não fui lá!



OUTUBRO

"Time of the Assassins" – Charlotte Gainsbourg (2009)



"(...)It doesn't take a miracle to raise a
Heart from the dead


And can something change
But still feel the same
The beginning's the end
I start all over again"

 Aqui a rotina realmente começava a vir à tona. As aulas e partes teóricas começaram de um modo volumoso e veloz; com horários de aula muito maiores do que eu estava acostumado e com uma didática um tanto confusa. Inclusive, também estava tendo aulas de italiano duas vezes na semana e era algo que eu adorava muito porque a professora Elena é um amor de pessoa!
 Neste mês fiquei escutando bastante o álbum "IRM" de Charlotte Gainsbourg; possuindo pitadas de rock alternativo e indie pop, foi produzido pelo Beck Hansem! <3 Eu já conhecia brevemente o trabalho dela como atriz – ela apareceu em vários filmes do Lars von Trier, como "Anticristo"; "Melancholia" e "Ninfomaníaca (Volume I e II) – e seu álbuns são ainda mais encantadores! Além disto, foi o mês em que eu conheci Paris e fui ao Pitchfork Music Festival para ver o Thom York!



NOVEMBRO

"The Magic" – Joan as Police Woman (2011)



"Now I do not wanna come off like I am
I'm loosing my head
But the shadow inside of me
Is begging for direction to illicit city"

  Encontrei o trabalho de Joan Wasser enquanto estava vagando pelo spotify na tentativa de renovar o acervo musical. "The Magic" é do álbum "The Deep Field" e traz todo o virtuoso ritmo de Joan usando o rock, pop e também jazz e descreve sobre a procura daquela mágica pela qual nossa mente está chamando para que possamos nos reinventar e finalmente nos livrarmos dos labirintos criados por nós mesmos.
 Por que não buscar outros caminhos, experimentar e se abrir às coisas que tínhamos preconceito a fim de que notemos novas oportunidades? Este intercâmbio não tem sido somente uma maravilhosa chance de conhecer novas (ou velhas) metodologias e visões de ensino mas também é um meio de reaprender conceitos e abrir ainda mais a minha mente!



DEZEMBRO

"Volcano" – Beck (2008)



"I don't know if I'm sane
But there's a ghost in my heart
That's trying to see in the dark, oh"

 O ciclo se fecha com uma música que me representou várias vezes também em outros meses; também, aqui poderia se encaixar a música "Littlest Things" de Lilly Allen. De qualquer modo, não são todos os dias em que o entusiasmo e a fascinação permanecem ao redor – muitas vezes – o aperto em relação às lembranças da velha rotina ou o sentimento de me sentir confuso e perdido me aparecem e insistem em ficar. Por outro lado, tudo isto serve de análise e assim como em "Volcano"; do álbum de rock alternativo "Modern Guilt" contando também com a participação de Cat Power, me vêm algumas perguntas: Tudo isto é uma ilusão? Aonde estou indo?
 Talvez possa ser apenas devido às festividades de fim de ano, apenas devido ao frio ou nada além dos previstos choques culturais?! No momento, não sei dizer, mas posso garantir que crescer diante das mudanças e enfrentar bravamente a realidade – deixando de lado a idealização – é uma tarefa complicada; com muitos passos e jamais deixa de ser enriquecedora.


 E que as próximas trilhas sonoras sejam tão boas de serem relembradas quanto foram as deste ano e que também possa servir como uma fonte de inspiração a quem se interessar.

Até a próxima! :)

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