Studio65 & o Design Radical

terça-feira, março 01, 2016


 Em dezembro tive o prazer de presenciar esta mostra na Galleria d'Arte Moderna (GAM) de Turim e no mesmo dia e local também vi a exposição das obras de Monet. A mostra do Studio65 se chama "Il Mercante di Nuvole" ou "O Mercador de Nuvens" e o nome já demonstra um pouco da irreverência deste estúdio de design e arquitetura turinense – e também de um movimento – nascido em 1965.
 A exposição celebra os 50 anos de atividades do Studio65, um dos protagonistas do Pop Design italiano – ou também Design Radical – possuindo o objetivo de combater o forte conformismo perante à estética proposta pelo modernismo com novas ideias criativas. Um coletivo de arquitetos; que contava com Roberta Garosci, Enzo Bertone, Paolo Morello e Paolo Rondelli, se reúnem com Franco Audrito (também estudante e pintor) para formar uma armada em sua mansarda* (uma espécie de cômodo de casa situado numa abertura do telhado com parede inclinada e teto baixo) em Turim, situada no Corso Vittorio Emanuele 84.

L'Arca (1993)

 Em uma noite de primavera, desenham aquilo que seria a marca* do grupo; possuindo sempre a ironia em sua linguagem: o nome Studio65 escrito com uma tipografia que se remetia àquela da máquina de escrever e os quais a distribuição era frequente em frente às fábricas da época (lembrando que Turim foi famosa naquela período devido ao desenvolvimento industrial). A composição tipográfica era um tanto desconexa porque o número 65 era desenvolvido sendo metade em letras e a sua outra metade em numerais ("sessanta5") e começando um novo parágrafo depois do s duplo ("sess=anta5").
 A marca é uma declaração de guerra em relação à consolidada estrutura de linguagem de modo elitista e com o objetivo de desmascarar os valores ideológicos e propor a experimentação de novos meios de expressão linguística com a capacidade de representar o desejo por renovações e mudanças que se encontrava na juventude dos anos 60.


 O Anti-Design e o Design Radical marcam a transição do modernismo rumo à pós-modernidade. O modernismo trazia consigo a noção da racionalidade, universidade, padronização produtiva e também a utilização de paleta de cores sóbrias (como o preto, cinza e branco); por outro lado, o Anti-Design não se focava na funcionalidade e nem mesmo ao apelo comercial e abraçava de vez a efemeridade da Pop Art (a linguagem da comunicação de massa) para se apegar à ornamentação e também à decoração.
 A estética desenvolvida obtinha ênfase no uso de materiais, cores, proporções exageradas e texturas diferenciadas; resultando em peças “caricatas”, absurdas e de grande incoerência por parte da crítica da época. Neste movimento não existe a admiração em relação aos materiais na sua forma pura ou das características práticas – ao contrário – é atribuída a carga simbólica como símbolos visuais ao design. Um exemplo é a poltrona "Mickey", criada em 1972, da qual tem o conceito de trazer as histórias em quadrinhos para a vida cotidiana e também de ruptura ao poder doméstico.

Poltrona "Mickey" (1972).

 Tanto o Anti-Design quanto o Design Radical possuíam como proposta a revolução estética e sociocultural. Além disto, o Design radical questionava por que se manter com os antigos aspectos funcionais modernistas. O Anti-design não visava o mercado consumidor na elaboração dos seus projetos; mas se concentrava no estudo das possibilidades formais, buscando um novo jeito de se ver e experimentar o design com novas formas e texturas – a fim de trabalhar em função da sociedade para aprimorar o seu olhar  sobre o design; porém, o Design Radical visava diretamente à sociedade e propunha maneiras radicais (muitas vezes utópicas) para organização social e evolução cultural; ou seja, a reformulação das antigas maneiras de se fazer design mas que ainda mantivesse – de algum modo – a usabilidade do produto.

O Studio65 e a mostra "Il Mercante di Nuvole" na GAM Torino.

O Studio65 e a mostra "Il Mercante di Nuvole" na GAM Torino.

"Boccadoro" (2015).

 Uma das coisas mais interessantes desta mostra foi poder experimentar algumas das peças criadas pelo Studio65. Pude me sentar em várias poltronas! Além disto, contava com algumas salas mais interativas, com projeções de céu (e poltronas igualmente temáticas) ou projeções de guerra. Foi um dia um tanto divertido e agradável!
 Antes que me esqueça, e também àqueles que possam se interessar, um dos trabalhos que fiz na matéria de História do Design na universidade foi a criação de uma cartaz contando sobre o Anti-design. Caso queiram, podem conferi-lo no meu portfólio e também podem se aprofundar um pouco mais sobre o assunto com o artigo do blog da Universidade Ahembi que usei como referência.

Espero que tenham gostado.

Abraços!

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2 commenti

  1. Muito muito muito legal! Ainda não tinha escutado os termos Anti-Design e o Design Radical, mas acho que já estava familiarizada com o estilo por culpa do tumblr! hahaha AMEI a mesa da terceira foto, as poltronas de maçã, tudo... Obrigada por compartilhar, realmente de encher os olhos!
    E, ah, te indiquei para responder uma tag de perguntinhas! (http://cafeepoesiafc.blogspot.com.br/2016/03/tag-descobrindo-novos-blogs.html) Eu ia gostar de ver suas respostas (:

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    Respostas
    1. Oi Fernanda!
      Que bom que gostou! É tão legal descobrir as referências de algo que já vimos bastante por aí, né?
      Muito obrigado pela indicação! Desculpe a demora em responder, mas voltei de viagem faz pouco tempo e o novo semestre no intercâmbio está começando... Assim que conseguir um tempo, eu respondo!

      Abraços! :D

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